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Na estrada

MORRIS KACHANI

Novos horizontes

Movimento ignorado pelo establishment, o 'ocupai' mineiro, em BH, merecia ser levado mais a sério

O TRAJETO do aeroporto ao centro de Belo Horizonte começa pelo majestoso complexo que abriga a máquina do governo estadual, assinado por Niemeyer e erguido por Aécio Neves em 2010. Depois, a reforma do Mineirão, com as obras adiantadas. E ainda a construção de uma via que conduz ao estádio.

Mais adiante chega-se à praça da Estação, marco da cidade. Um grupo de jovens ruidosos que se conheceram pelas redes sociais decidiu transformá-la em praia aos sábados de verão, com direito a guarda-sol, caixa de isopor e biquíni.

Um decreto de 2009 sobre a suspensão temporária do uso da praça os uniu. Nascia o movimento "Praia da Estação". Os trajes de banho abalaram os alicerces morais que ainda restavam na cidade.

Ignorado pelo establishment, o "ocupai" mineiro merecia ser levado mais a sério. Na pauta, inserção social, transporte público e planejamento adequado de expansão.

Belo Horizonte é uma cidade planejada, é verdade. Mas para 300 mil, não 3 milhões. Como em todas as metrópoles brasileiras, a mobilidade urbana se tornou questão central.

A coordenação do movimento é horizontal, sem lideranças. Rafael Barros, antropólogo e produtor cultural, Milene Migliano, professora, e Priscila Musa, arquiteta, todos na faixa dos 27 aos 30 anos, explicam que o movimento não pressupõe envolvimento com partidos e congrega diversos grupos.

Eles acusam Lacerda de ter imposto uma administração empresarial, elitista e carregada de preconceitos. Criaram o "Fora, Lacerda", que nasceu do "Praia da Estação".

Citam como exemplo uma entrevista do prefeito ao jornal "Estado de Minas" em 2011, em que afirmou que morador de rua não passa fome e não pode se estabelecer na via.

Lacerda rebate, chamando o movimento de "lenda urbana". Reconhece o erro no decreto, explica que lugar de morador de rua é nos albergues, e que não há erro em proibi-lo de acampar na rua.

Minas lidera o número de assassinatos de moradores de rua no país. São 61 dos 195 casos em 15 meses. Lacerda diz desconhecer a estatística e atribui as mortes a brigas.

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