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Mensalão - o julgamento

'Sinto medo', afirma banqueira do Rural

Em carta divulgada a amigos, Kátia Rabello não cita a palavra "prisão", mas diz saber do risco que está correndo

Ela já foi condenada por lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta; falta ser julgada por formação de quadrilha

Jefferson Dias - 23.set.08/"Valor"
Kátia Rabello, cuja pena de prisão poderá passar de oito anos, em fotografia de 2008
Kátia Rabello, cuja pena de prisão poderá passar de oito anos, em fotografia de 2008

MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO

A banqueira Kátia Rabello, principal acionista do Banco Rural, instituição usada no esquema do mensalão, diz em carta divulgada a amigos que está com medo.

"A semana passada estive muito mal. O cansaço e a desesperança se abateram sobre mim. Sei do risco que corro e é claro que sinto medo", escreveu na mensagem, obtida pela Folha.

Kátia não cita a palavra prisão, mas pode ir para o regime fechado após ter sido condenada pelo Supremo Tribunal Federal por lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta. Ela será julgada ainda por formação de quadrilha.

A pena de prisão pode ultrapassar os oito anos, tempo mínimo para os ministros determinarem o cumprimento em regime fechado.

Na mensagem, ela diz ter vivido "momentos terríveis" após a morte de José Augusto Dumont, ex-vice-presidente do Rural apontado por seu advogado, José Carlos Dias, como elo entre o banco e o PT.

Dumont morreu em 2004, num acidente de carro. Se a tese de defesa do advogado tivesse prevalecido, o culpado seria um morto.

Os ministros do Supremo derrotaram a tese de Dias e imputaram a responsabilidade pelos empréstimos de R$ 31 milhões do Rural, feitos a agências de Marcos Valério e ao PT, a Kátia Rabello e aos executivos que ela contratou.

Os ministros endossaram a tese da Procuradoria, segundo a qual ela teve encontros com o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, por ter interesses em acabar com a liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco, do qual o Rural controlava 22%. Essa foi a razão apontada pelo Supremo para o Rural conceder empréstimos ao PT e às agências de Valério.

"Essa sensação de impotência é que nos faz perder a razão de viver", escreve ela.

Católica, a banqueira diz ter buscado apoio em Deus e no estímulo dos amigos. Para ela, "a vida é dura demais".

Kátia diz conviver com um sentimento de "injustiça" após a condenação.

"Lá no fundo, cada um de nós sabe o que fez e o que não fez... Por isso estou em paz", relata.

Segundo ela, houve momentos de "desespero" entre 2004 e 2005. À época, o Rural foi abatido por três crises.

A primeira foi causada pela quebra do Banco Santos. Com a derrocada, muitas empresas fugiam de bancos médios temendo insolvência. "Felizmente, pude honrar todos os compromissos", diz. A segunda foi causada pelo mensalão. A outra, pela morte do pai e da irmã.

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