Índice geral Poder
Poder
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Análise

Barbosa vê autos cheios de provas; para Lewandowski, elas não existem

SE HÁ PROVAS PARA TUDO E PARA TODOS, A QUESTÃO FUNDAMENTAL É A SELEÇÃO DO FATO QUE CONSTITUI PROVA E JUSTIFICA O VOTO

JOAQUIM FALCÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não ocorreu a batalha anunciada de corpo presente. O ministro relator Joaquim Barbosa estava ausente. Com isto, despolarizou e abriu espaço para outros ministros discordarem do ministro revisor Ricardo Lewandowski. Pluralizou o debate.

Mas, no conteúdo, cada um cumpriu seu destino. Barbosa condena e Lewandowski absolve. Nada novo.

O resultado reside nas mãos dos outros oito ministros que assistem. A discussão teórica sobre fatos e provas terminou. É hora de votar. As posições aparecem.

O problema é que, "Vejam Vossa Excelências, eu tenho que julgar com o que está nos autos. São 60 mil paginas", disse Lewandowski.

"No processo há provas para todos os gostos" disse também. "Há provas contraditórias" complementou.

Ou seja, se há provas para tudo e para todos, a questão fundamental é a seleção do fato que constitui prova que fundamenta a teoria, que, por sua vez, justifica o voto.

Com base nos fatos dos autos, Lewandowski absolveu o ex-presidente do PT José Genoino. Argumentou que nada nos autos provava intimidade entre Genoino e o empresário Marcos Valério.

Até que o ministro Ayres Britto levantou a pergunta. "Mas Valério e Genoino assinaram juntos empréstimos do Banco Rural ao PT".

Lewandowski duvidou. Britto confirmou. De fato, Genoíno e Valério tomaram empréstimos juntos. Pego de surpresa, Lewandowski, que errara, gentilmente disse que iria considerar esse fato depois. Sugeria que seu voto poderia ser mudado.

Mas não parou aí.

O ministro Marco Aurélio Mello continuou direto. O fato de presidente de partido assinar empréstimo junto com o empresário, como avalista, derruba a tese de Lewandowski para inocentar Genoino. A tese de absolvição caía por terra como edifício sem pilar de sustentação.

Será que o revisor Lewandowski, sem fato que sustente sua interpretação e teoria, mudará seu voto?

Mesmo ausente do plenário, Joaquim Barbosa ressoava. Os autos estão cheios de fatos que podem ser considerados provas que permitem interpretar e condenar.

Para Lewandowski eles não existem. Barbosa evidencia o que existe: contratos, reuniões, testemunhas, depoimentos. Lewandowski evidencia o que não existe. Nada nos autos prova contra Genoino e José Dirceu.

"Não tem mandante?" pergunta Marco Aurélio. Tudo foi articulação do ex-tesoureiro Delúbio Soares? Lewandowski hesita outra vez: "Não tenho provas para condenar José Dirceu".

E o conjunto fático de provas apontado por Barbosa? Já convenceu Rosa Weber e Luiz Fux. Convencerá Dias Toffoli?

JOAQUIM FALCÃO é professor de direito constitucional da FGV Direito-Rio

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.