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Elemento surpresa

Praticamente ignorado pelos adversários até 15 dias antes da eleição, Russomanno partiu para o ataque após queda livre nas pesquisas

DIÓGENES CAMPANHA
DE SÃO PAULO

Independentemente da ida do candidato para o segundo turno, os 2 minutos e 11 segundos que Celso Russomanno teve a cada bloco de 30 minutos no horário eleitoral gratuito entrarão nos discursos sobre o sucesso ou o fracasso da primeira tentativa do PRB de conquistar a Prefeitura de São Paulo.

O pouco tempo na propaganda de rádio e TV foi um dos obstáculos que o ex-deputado e apresentador superou para chegar ao dia da eleição correndo no pelotão de frente, contrariando as previsões de que sua candidatura murcharia com o início da campanha eletrônica -José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) tinham, cada um, mais de sete minutos.

"Não tínhamos a estrutura dos outros partidos, o tempo de TV, as mesmas condições financeiras", diz o presidente do PRB e coordenador da campanha, Marcos Pereira, para valorizar o desempenho de seu candidato.

A perda de fôlego na reta final, quando Russomanno caiu de 35% para 23% das intenções de votos (27% nos válidos), segundo o Datafolha, também foi colocada na conta do horário político.

Depois de ter sido ignorado pelos rivais durante quase toda a campanha e de ter apenas assistido à troca de farpas entre petistas e tucanos, o candidato viu suas promessas e seus apoiadores serem questionados com veemência a partir da segunda quinzena de setembro.

Foi obrigado a abandonar a postura passiva de que não faria nem comentaria "ataques pessoais" -posicionamento que incomodava seus eleitores, acostumados a vê-lo colocar o pé na porta de comerciantes e prestadores de serviço em seus quadros de defesa do consumidor na TV.

Bateu na mesa, chamou Haddad de "mentiroso", disse ter mais experiência que ele e Gabriel Chalita (PMDB) e reclamou que seu tempo na propaganda partidária era insuficiente para explicar propostas e reagir às críticas.

A campanha do PT teve sucesso ao colar na proposta de Russomanno de criar uma tarifa de ônibus proporcional ao trecho percorrido a ideia de que a medida penalizará quem mora na periferia e mais longe do trabalho.

O tema foi pinçado do plano de governo publicado no site do candidato, onde não há explicação de como a medida será implementada.

Haddad o questionou sobre a tarifa no debate da TV Gazeta, no último dia 24. A partir daí, Russomanno teve que responder diariamente sobre a proposta.

Integrantes da campanha admitem ter sido pegos de surpresa. Eles esperavam que só precisariam apresentar os dados para embasar a promessa no segundo turno, no qual o tempo de TV é o mesmo para os dois candidatos.

A ausência de um programa de governo detalhado também foi explorada pelos adversários, que passaram a questionar sua experiência e preparo para o cargo.

Russomanno chegou a anunciar a apresentação das duas primeiras etapas do documento para a última semana de setembro, o que não ocorreu. Enquanto isso, o PRB e seu principal aliado, o PTB, disputavam nos bastidores a indicação de "notáveis" para compilar e dar credibilidade às propostas.

Filiado a um partido comandado por bispos da Igreja Universal do Reino de Deus, Russomanno também foi obrigado a desvincular sua candidatura da denominação de Edir Macedo.

Católico, marcou aparições públicas em missas ao mesmo tempo em que negociou apoios de igrejas evangélicas como a Renascer em Cristo e o Ministério de Santo Amaro da Assembleia de Deus, cujos pastores pediram explicitamente votos a ele durante um culto.

No final de setembro, ele foi alvo de ofensiva da Igreja Católica, que afirmou que sua eleição ameaçava a democracia. A Arquidiocese de São Paulo determinou a leitura de um texto com críticas à candidatura em todas as missas de 16 de setembro, um domingo.

Russomanno desistiu de ir a um debate promovido pela Igreja Católica e só foi recebido pelo arcebispo dom Odilo Scherer, a quem pediu audiência, no dia 22. Disse que não falaria mais sobre religião, só "sobre São Paulo".

Dois dias depois, Chalita disse, no horário eleitoral noturno na TV, que os dirigentes do PRB eram da Igreja Universal, dando início a uma série de ataques dos rivais ao até então líder isolado nas pesquisas, condição que havia assumido no final de agosto.

Foi aí que ele decidiu revidar para estancar a perda de votos, como vinham cobrando seus coordenadores, que já ensaiam discurso para o caso de um possível revés. "Independentemente do resultado, essa campanha nos faz vencedores", avalia Pereira.

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