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Pressão na estreia

Às voltas com mensalão, boicote inicial de Marta, aliança com Maluf e abandono de Erundina, Haddad encerra campanha sob tensão

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

"Está dando tudo errado." Com essas palavras, Fernando Haddad descrevia a sua campanha na terceira semana de junho, em conversas relatadas por aliados.

Para quem esperava repetir o sucesso da presidente Dilma Rousseff, também ungida por Lula e consagrada na sua estreia eleitoral em 2010, a situação do candidato do PT a prefeito de São Paulo era mesmo desanimadora.

O ex-ministro da Educação terminava mais um mês empacado nos 6% de intenções de voto e não tinha para onde olhar em busca de ajuda.

Abalado pelos efeitos do tratamento do câncer, Lula cumpria um exílio forçado das ruas. A ex-prefeita Marta Suplicy, que poderia compensar sua ausência, não só boicotava o colega de partido como aproveitava cada chance para expor sua mágoa por ter sido impedida de concorrer.

Em Brasília, o Supremo Tribunal Federal marcava o julgamento de petistas envolvidos no mensalão para a reta final da campanha. Em São Paulo, amigos do candidato telefonavam para manifestar repúdio à união com o ex-prefeito Paulo Maluf (PP).

Nada parecia poder piorar quando, numa noite de terça-feira, Haddad recebeu a notícia de que tinha perdido a vice: a ex-prefeita Luiza Erundina (PSB), apresentada com festa três dias antes, abandonava a chapa em protesto contra a aliança com o adversário histórico.

"Foi o momento mais difícil que eu vivi", disse o petista à Folha, anteontem.

Abatido, ele suspendeu os compromissos públicos e passou três dias inerte até esboçar a primeira reação: o anúncio de que assumiria a tarefa de escolher a nova companhia de chapa.

Foi no anúncio da vice Nádia Campeão (PC do B), quando Lula fez um duro discurso em que prometeu "morder as canelas" dos adversários para elegê-lo, que Haddad começou a recuperar o ânimo, à base de previsões otimistas.

O ex-presidente, a cúpula do PT e o marqueteiro João Santana repetiam que a reação era questão de tempo: bastaria aguentar até meados de agosto para começar a subir com o início da propaganda na TV. O piso desse crescimento seria o patamar histórico do partido: um terço dos votos dos paulistanos.

O horário eleitoral rendeu um salto de seis pontos em uma semana, mas a euforia, mais uma vez, durou pouco. Haddad passou todo o mês de setembro oscilando na margem de erro das pesquisas -ou seja, praticamente estacionado no mesmo lugar.

Não conseguia recuperar votos de petistas seduzidos por Celso Russomanno (PRB), que disparava isolado na liderança, e também não se arriscava a criticá-lo, contrariando aliados que o acusavam de só dar ouvidos ao publicitário indicado por Lula.

"Haddad se iludiu, pensou que bastava a TV começar que iria subir igual a um foguete e sem muito esforço. Agora essa ilusão está passando, o que é bom", diz o ex-ministro Orlando Silva, candidato a vereador pelo PC do B.

Sob ameaça de um motim no partido, o candidato finalmente decidiu ir ao ataque no último dia 24, quando forçou o confronto com o azarão no debate da TV Gazeta.

A ofensiva foi seguida por rivais e fez Russomanno começar a derreter, mas ainda não foi capaz de dar a Haddad um crescimento que o garanta no segundo turno, mesmo com o reforço de Dilma no palanque.

Desta vez, os aliados são unânimes no diagnóstico: o candidato conseguiu pôr Russomanno em xeque, mas paga pelo desgaste do PT no Supremo, que começou a julgar o ex-ministro José Dirceu. Os petistas reconhecem que a propaganda maciça de José Serra (PSDB) para associar Haddad aos mensaleiros fez efeito.

"O mensalão travou a campanha e nos impediu de crescer no centro expandido, onde estão os eleitores que a gente precisa conquistar. Com tanta pancada que a gente está levando, é um milagre que o Haddad ainda esteja em pé", diz o tesoureiro petista, Chico Macena.

"Nas condições que o PT enfrenta, com dois meses de pau todo dia no 'Jornal Nacional', é uma vitória termos chegado até aqui", faz coro o coordenador Antonio Donato.

Na sexta-feira, os dirigentes da campanha diziam contar com um segundo turno entre Haddad e Serra, mas admitiam que a eleição estava indefinida. Lula disse enfrentar sua disputa "mais complicada" na cidade.

Se Haddad for derrotado hoje, será o pior resultado do PT na cidade desde que a corrida municipal passou a ter dois turnos, há 20 anos.

O candidato diz que só fará um balanço da campanha após a divulgação dos resultados. "O que posso dizer agora é que esta foi uma eleição atípica, que contrariou todas as previsões."

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