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Delator do mensalão do DEM quis trocar silêncio por dinheiro

Durval Barbosa negociou com aliado de governador do DF antes de divulgar vídeo de Arruda recebendo propina

Gravações levaram à queda de Arruda, 2009; defesa de Durval nega ameaça e diz que áudio é apenas simulação

RUBENS VALENTE
MATHEUS LEITÃO
DE BRASÍLIA

O delator do mensalão do DEM no Distrito Federal, em 2009, Durval Barbosa pediu proteção ao seu principal alvo de denúncias, o então governador José Roberto Arruda (à época no DEM), e sugeriu negociar seu silêncio.

É o que revela uma gravação inédita apreendida pela Polícia Civil no cofre de um hotel em Brasília e transferida em 2011 à Polícia Federal.

"Eu prefiro muito mais a proteção do que dinheiro", disse Barbosa, numa conversa com o ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), então secretário de Transportes do DF e aliado de Arruda.

Naquele momento, Durval, secretário extraordinário do governo do DF, era acuado por investigações do Ministério Público sobre irregularidades em contratos públicos sob sua responsabilidade.

Por meio de Fraga, ele fez chegar a Arruda a informação de que detinha vídeos em que aparecia distribuindo dinheiro a parlamentares aliados e entregando um maço de dinheiro ao próprio governador.

Mais tarde, no auge do escândalo, em novembro de 2009, esses vídeos foram divulgados. O caso levou à saída de Arruda do governo.

A Folha teve acesso ao áudio, de 26 minutos, e à transcrição feita pela polícia. A gravação foi feita por Fraga, que a guardou em um hotel, onde foi localizada quando a polícia cumpria uma ordem judicial em outro inquérito.

O encontro entre Fraga e Durval teria ocorrido no primeiro semestre de 2009, depois que Arruda recebeu os primeiros indicativos de que o secretário tinha munição suficiente para abrir uma grave crise no governo.

Fraga narrou a Durval o resultado de uma reunião mantida dias antes com Arruda.

Segundo o ex-deputado, Arruda o chamou para saber sua opinião para saber "o que fazer" com Durval.

'BOMBA'

Fraga disse ter respondido: "Falei: 'Arruda, deixa eu te falar uma coisa: o cara é uma bomba ambulante. Você não pode ficar com um cara desse contra você no seu governo. [...] Se você insistir nisso, você pode ter certeza que você vai cair do governo'".

O ex-deputado disse ter sugerido pragmatismo: "Eu falei: 'Ó, se ele [Durval] tinha 'X', e você quer dizer para ele que não dá mais 'X' para ele, então você chega e diga, eu dou 'Y'. Temos que conversar'. E você [Durval] tem que se sentir também atendido". Durval corrigiu: "Protegido".

Fraga prometeu dar "as garantias" necessárias.

A advogada de Durval, Margareth Almeida, disse que o pedido do cliente foi uma mera simulação, que a conversa ocorreu em outubro de 2009, quando o seu cliente já era colaborador do Ministério Público, e apenas procurava "acalmar" Arruda antes da deflagração da Operação Caixa de Pandora. Ela negou se tratar de ameaça.

Segundo a advogada, na época todo o "material de prova" já havia sido entregue ao Ministério Público.

Fraga afirmou que apenas fez a intermediação dos pedidos de Durval e negou ter cometido qualquer irregularidade. Disse que Arruda não interferiu no Judiciário. O governador e seu advogado não foram localizados.

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