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Governo teme conflito entre índios e fazendeiros em MS

Grupo de 170 indígenas diz que não aceita desocupar fazenda no sul do Estado

A taxa de suicídios entre guarani-caiovás é de 62,01 por 100 mil pessoas, índice alto para padrões mundiais

DANIEL CARVALHO
FELIPE LUCHETE
DE SÃO PAULO

O governo federal decidiu convocar uma reunião de emergência para tentar intervir em uma disputa fundiária envolvendo índios guarani-caiovás e fazendeiros em Mato Grosso do Sul.

Pastas e órgãos deverão se reunir nesta segunda-feira.

O caso voltou à agenda do governo após uma carta divulgada por indígenas da comunidade de Pyelito kue-Mbarakay, no extremo sul do Estado. No texto, eles prometem resistir a qualquer tentativa de desocupação da área.

O grupo de 170 índios reclama de uma decisão liminar da Justiça Federal que determinou em setembro a desocupação da área, que fica dentro da fazenda Cambará, em Iguatemi (a 462 km de Campo Grande).

"Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente aqui", diz a carta, que circulou pela internet na última semana.

As citações a mortes coletivas chamou a atenção em uma etnia com histórico de suicídios -foram 555 entre 2000 e 2011, segundo dados do Ministério da Saúde.

A taxa de suicídios entre guarani-caiovás é de 62,01 por 100 mil habitantes. Para a OMS (Organização Nacional da Saúde), um índice de 12,5/100 mil já é muito alto.

O governo federal e o Cimi (braço missionário para os índios da Igreja Católica) dizem que os índios não tratam na carta de suicídio coletivo.

O Ministério Público e a Funai já recorreram da decisão do juiz federal Sérgio Bonachela, de Naviraí. Ontem, a carta ordenando a manutenção de posse à fazenda chegou à comarca de Iguatemi.

A Polícia Federal ainda não foi acionada para acompanhar o oficial de Justiça à área hoje ocupada pelos índios.

Os guarani-caiovás vivem espalhados por várias áreas no Estado, em terras demarcadas e acampamentos.

Defensores dos indígenas dizem que muitos deles vivem cercados por pistoleiros. Os registros de ataques, segundo eles, são constantes.

Segundo a Procuradoria, a taxa de homicídios entre os guarani-caiovás é de 100 para 100 mil habitantes, quatro vezes a média nacional, 27,1.

NEGLIGÊNCIA

Para o Cimi, a carta deu visibilidade à situação dos índios na região de fronteira.

"Essa carta escancara para o mundo que o Brasil não é capaz de proteger seus povos indígenas. Nenhum governo, de direita ou dito de esquerda, conseguiu resolver essa problemática", disse o coordenador regional do Cimi em MS, Flávio Machado.

"Agora, ou resolve ou o decreto de extermínio desses povos foi assinado e não há mais nada o que fazer."

O procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida diz que o governo federal concedeu títulos de propriedade a fazendeiros para permitir a ocupação da área de fronteira e agora precisa resolver o imbróglio.

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