São Paulo, domingo, 01 de maio de 2011

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SNI viu elo entre Dilma e grupo armado após anistia

Relatório de agência de espionagem da ditadura cita reunião no fim de 79

Presidente nega ter participado de reunião que organização que patrocinou sequestros teria feito em Registro

CATIA SEABRA
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA

A principal agência de espionagem da ditadura militar (1964-1985) ligou a presidente Dilma Rousseff a uma organização de esquerda com atuação em vários países da América Latina num relatório produzido pouco depois da promulgação da Lei da Anistia, em 1979.
O informe foi distribuído pelo antigo SNI (Serviço Nacional de Informações) no fim de 1980 e inclui Dilma entre os participantes de uma reunião que teria sido realizada pela JCR (Junta de Coordenação Revolucionária) em novembro daquele ano, no município de Registro (SP).
Um resumo do relatório consta de uma certidão emitida em 2000 pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) a pedido de Dilma, que usou o documento num processo que lhe assegurou uma indenização de R$ 22 mil do Estado de São Paulo pela tortura que sofreu como presa política na ditadura.
Nos anos 70, Dilma participou de dois grupos de esquerda que pegaram em armas para combater a ditadura, o Colina (Comando de Libertação Nacional) e a VAR-Palmares. Ela nega ter participado de ações armadas.
A certidão da Abin é o primeiro documento a apontar uma ligação entre Dilma e a JCR. A assessoria do Palácio do Planalto afirmou à Folha que ela nunca se envolveu com essa organização.
O relatório do SNI que disseminou a informação foi produzido pela agência de Porto Alegre (RS) do órgão. Ele está sob a guarda do Arquivo Nacional e só pode ser consultado por Dilma ou pessoas autorizadas por ela.
Segundo os registros do extinto SNI, também teria participado do encontro em Registro o então marido de Dilma, Carlos Franklin Paixão de Araújo. À Folha ele classificou o relatório como "uma barbaridade" e disse que nunca esteve em Registro e desconhece a JCR.
Araújo sugere que o texto possa ter sido produzido pela extrema-direita da gestão João Figueiredo (1979-85).
Criada em 1973 por grupos de Argentina, Bolívia, Chile e Uruguai, a JCR organizou sequestros de executivos e outras ações armadas nos anos 70, mas não há evidências de que tenha atuado no Brasil.
Documentos da Aeronáutica liberados pelo Arquivo Nacional citam reunião da JCR que teria sido realizada em Registro em 1979 e outra em Osasco.
Mas duas pessoas citadas como participantes do segundo encontro disseram à Folha que não conhecem a JCR e nunca estiveram numa reunião parecida com essa.


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