São Paulo, domingo, 01 de maio de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

JANIO DE FREITAS

Delúbio, um exemplo


A readmissão do petista repõe em sua realidade o nível de exigência ética e legal dos partidos brasileiros

A VOLTA DE Delúbio Soares aos quadros do PT ilustra a atualidade da política brasileira como uma síntese quase perfeita, mas nem tanto pela participação no impropriamente chamado mensalão.
Os 60 votos dados no Diretório Nacional por sua readmissão, quatro vezes os 15 contrários, tornam inquestionável o desejo petista de ter Delúbio de volta ao ninho. Justifica-se, digamos. Tosco como pessoa e fosco como agente político, Delúbio era a figura ideal para ficar como bode expiatório. E ficou, para o PT alegar uma providência ética.
As formas e graus diferentes de presença no esquema não invalidavam a participação dos demais, fossem ou não petistas, na corrupção política. Exceto Delúbio, os petistas envolvidos foram mantidos no PT. O Congresso tem muitos dos envolvidos. Nem o governo os considerou inaceitáveis para nomeação a cargos públicos. Delúbio foi reposto em igualdade, no seu nível partidário, com os companheiros de mensalão.
Em sentido mais amplo, porém, a readmissão repõe em sua realidade o nível de exigência ética e legal dos partidos brasileiros, na abertura das portas. Delúbio Soares foi, da parte do PT, a figura central no mensalão. Os arranjos políticos não lhe couberam, mas o movimento financeiro da compra e venda foi operado por ele, com Marcos Valério e sua agência, e o Banco Rural por trás (como já aparecera no caso Collor/ PC Farias). Nada disso, no entanto, conflita com a composição dos quadros de militância e de representação eleitoral. O fim da exceção Delúbio recompôs a fisionomia da realidade.
Mas, se Lula e outros dirigentes do PT estavam alheios ao mensalão, Delúbio abusou da condição de tesoureiro do partido em medida inapagável, pelo transtorno aí imposto, em definitivo, à imagem moral do petismo. A readmissão serve também, portanto, como reforço aos convictos do comprometimento dos principais dirigentes, como consta das conclusões da Procuradoria-Geral da República encaminhadas ao julgamento do Supremo Tribunal Federal.
Delúbio não se encerra em seu episódio de notoriedade. Há mais, e grave. Mesmo para quem não dê importância ao papel de Delúbio no mensalão ou considere, como a cúpula petista, que o mensalão foi só montagem combinada de opositores e dos meios de comunicação para derrubar Lula. Delúbio Soares foi condenado pelo Tribunal de Justiça de Goiás (seu Estado) a devolver aos cofres públicos R$ 164 mil, acusado de desviá-los com documentos falsos que o davam como professor ativo no ensino público.
Já não se trata do militante em desvio de conduta política, do tipo que "todos os partidos fazem", no dizer mal contestado de Lula. A condenação é por delinquência pessoal. E, justamente para evitar sua extensão a qualquer forma de política, acompanhou-se da suspensão dos direitos políticos por oito anos.
O recurso judicial e a demora no julgamento do mensalão alimentam a atual expectativa de Delúbio e do PT: a troca da condição de militante partidário pela de político eleito, nas eleições do próximo ano. De todos os pontos de vista da política brasileira na atualidade, Delúbio Soares tem tudo para ser bem-sucedido em sua pretensão.


Texto Anterior: A volta do Dragão
Próximo Texto: Para PT, não há risco real de escalada inflacionária
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.