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Assentados do Pará relatam medo e evitam sair de casa
Moradores de Nova Ipixuna, onde três pessoas foram mortas na semana passada, abandonaram a região
No assentamento, 366 famílias vivem em 22 mil hectares; bares fecharam e crianças deixaram de ir à aula
FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A NOVA IPIXUNA (PA)
O lavrador Manoel Santos
Silva parou ontem sua canoa
na lagoa em frente à casa do
agricultor José Martins, no
assentamento agroextrativista de Nova Ipixuna (sudoeste do Pará) onde três
pessoas foram assassinadas
em menos de uma semana.
Ele desceu do barco para
comprar a farinha fabricada
pelo vizinho, mas não encontrou ninguém lá. Martins correu antes para se esconder no
meio da floresta.
Ameaçado de morte por
grileiros que incendiaram
sua casa, o colono deixou para trás panela no fogão de lenha e mandiocas descascadas no chão de terra batida.
"Ele está assombrado, como todo mundo no assentamento", disse Silva, referindo-se ao medo que tomou
conta do lugar após a morte
dos líderes extrativistas José
Cláudio Ribeiro da Silva e
Maria do Espírito Santo da
Silva, e do agricultor Eremilton Pereira dos Santos.
No local, 366 famílias vivem espalhadas em 22 mil
hectares. As glebas são intercaladas por pastagens, lagoas e manchas da floresta
amazônica. O acesso pela estrada de terra esburacada
que corta a região é difícil.
Os assentados estão quase
enclausurados. Os poucos
bares estão fechados e muitas crianças deixaram de ir à
aula. Várias famílias abandonaram as casas.
"Existe um clima de incerteza", disse Claudelice Silva
dos Santos, 29, irmã de José
Cláudio. "Diante disso, nossas famílias acharam por
bem sair." Quem ficou tenta
reforçar a segurança.
Além de criar rotas de fuga
na floresta, muitos juntaram
os parentes em uma só moradia, como o casal de trabalhadores rurais Francisco
dos Santos da Silva, 31, e
Adriana Almeida Santos, 25,
e os quatro filhos.
A família mora a cerca de
300 metros do local onde
Eremilton foi assassinado.
Após a morte do colono, todos foram para a casa da mãe
de Francisco. "A gente não
sai", disse Adriana.
Picapes da Polícia Federal
circulam pelo assentamento
e helicópteros sobrevoam a
região. Fiscais do Ibama rondam as glebas em busca de
madeireiros e carvoeiros.
Para Luiz dos Santos Monteiro, um dos cunhados do líder extrativista morto, o clima de terror só vai terminar
quando os mandantes dos
crimes forem presos.
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