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"Governo Lula é nefasto", afirma Plínio
Para ele, PT é a "primeira grande realização" dos brasileiros, mas atual gestão "paralisou" o movimento popular
Candidato do PSOL à Presidência, ele diz que, caso vença as eleições, não pretende implantar o socialismo no Brasil
FERNANDO GALLO
DE SÃO PAULO
Depois de ter ajudado a
lançar a primeira candidatura de Fernando Henrique
Cardoso ao Senado e de ser
um dos coordenadores da
primeira campanha de Lula à
Presidência, Plínio de Arruda
Sampaio (PSOL) vai a seu primeiro pleito presidencial.
Aos 80 anos, ainda defende as mesmas bandeiras do
início de sua militância política, como o socialismo e
uma reforma agrária radical.
Egresso do PT, onde ficou
por 25 anos, Plínio chama o
atual governo de "nefasto" e
diz que o capital estrangeiro
"permite a Lula fazer populismo com o dinheiro".
Folha - Quais serão as suas
principais plataformas?
Plínio de Arruda Sampaio -
Uma reforma agrária radical
e uma socialização da educação e da saúde.
O sr. fala em implantar o socialismo. Como isso funcionaria?
Eu não pretendo implantar o socialismo no Brasil e
nem é a pretensão do meu
partido agora. Vou fazer uma
proposta dentro do marco do
capitalismo. As únicas formas socializadas que vamos
ter são a saúde e a educação.
O sr. daria um calote na dívida?
Calote é uma expressão
ideológica. Vamos suspender o pagamento e fazer uma
auditoria. O que for dívida,
vamos conversar e negociar o
pagamento. O que não for,
não vamos pagar. Os setores
internos credores do Estado
são os mais ricos. Eles podem
esperar um pouco.
Isso não provocaria uma fuga
de capitais do país?
É possível que tenha um
pouco esse efeito. Mas não há
necessidade desse afluxo
contínuo de capital estrangeiro para criarmos uma boa
economia neste país. Podemos, com os recursos internos jogados no mercado interno, ter um índice de crescimento razoável. Ninguém
quer competir com a China.
Como o sr. avalia o governo
Lula?
Acho um governo nefasto.
Porque cooptou e paralisou o
movimento popular. Cooptou as lideranças, transformou os movimentos em
ONGs, terceirizou uma série
de serviços que são do Estado
como forma de transpassar
dinheiro para as entidades.
Que avaliação o sr. faz do modelo econômico brasileiro?
É neoliberal. É uma política de neocolonização, de fazer com que o Brasil, que já
foi a oitava potência industrial do mundo, volte a ser
um país exportador de produtos primários. O Brasil oferece um juro altíssimo. O dinheiro vem pra cá e permite
ao Lula fazer esse populismo
com o dinheiro, gerando a
ideia pra classe C e D de que
ela subiu pra classe B. Porque ela agora consome eletrodomésticos, pode até
comprar automóveis em não
sei quantos meses. E ela se
endivida. Isso é uma coisa
terrível. É nefasto, não é um
adjetivo à toa.
Como o sr. vê o PT de hoje?
Tenho uma tremenda tristeza porque o PT é a primeira
grande realização do povo
brasileiro. Isso se perdeu. A
maioria dos petistas é gente
ótima. O que houve foi um
desvio de cúpula. A cúpula
dirigente abandonou o projeto petista e assumiu um projeto de poder.
Quais seriam os principais
vetores da reforma agrária
que o sr. faria?
O primeiro é considerado
um escândalo, tem gente que
fica assustada quando digo.
A propriedade da terra tem
que ter um limite. Tem na Inglaterra, na França, em tudo
quanto é lugar. Você não pode ter o monopólio da terra. O
MST e a Igreja estão colocando mil hectares como limite.
Daí pra cima se torna desapropriável.
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