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ANÁLISE
Sem embate, encontro só causou tédio
Muito contidos, três adversários só se mostraram sorridentes no final
NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Foi um debate tedioso, certamente por força das regras,
criadas para impedir o confronto, por acordo entre os
candidatos. Mas seria possível algum debate, de fato, se
no momento da transmissão
os quatro se dispusessem ao
questionamento.
Eles não quiseram, nem
sequer Plínio de Arruda Sampaio, franco-atirador em outros e ontem com a mente divagando por toda parte, incapaz até de humor.
O debate se encerrou, de
fato, no início do terceiro bloco, quando José Serra, ao ter
a oportunidade de escolher a
quem perguntar, evitou Dilma Rousseff. Era até então o
mais disposto ao questionamento do governo, apontando o dedo seguidamente na
direção de Dilma, porém escolheu Marina Silva para tratar de educação.
Ambos, Serra e Marina,
atravessaram boa parte do
programa em mesuras um
para o outro, como se concordassem em tudo ou quase tudo, de olho no segundo turno. A candidata verde fez leves restrições ao tucano sobre educação em São Paulo e
Bolsa Família.
Ainda assim, levou ao único momento, perto do final,
de descontrole de Serra. Mal
se percebia o que Marina dizia, mas ela atingiu o candidato tucano, que reagiu em
tom de ataque, "não use sua
régua para medir os outros".
Já passada a meia-noite,
acordou muita gente.
Diferentemente de Serra,
Marina ainda enfrentou Dilma diretamente, mas esta se
mostrou preparada para desviar qualquer contraposição.
Dizia o que queria, de imediato, como se não houvesse
pergunta, mas um tema geral
sobre o qual se estendia com
discurso preparado.
A exemplo do tucano, a
petista evitou fazer perguntas diretas para o adversário
maior. E conseguiu deixar o
registro da vinculação com
Lula logo no início.
Se houve perda para a candidata governista, se deve à
sua quase alienação nos primeiros blocos, o ar ausente,
que aparentava exaustão.
Em contraste, Serra buscava
se apresentar assertivo -ainda que por vezes isso se confundisse em negatividade e,
no limite, arrogância.
Dilma e Serra, tecnocratas
ambos, empataram sobretudo na linguagem cifrada, denunciando o vício administrativo, o que Marina foi mais
feliz em evitar. Também conseguiu, coisa rara no programa, deixar uma imagem aparentemente pensada, confrontando seu "verde" com
"azul" e "rosa", para romper
com o "plebiscito".
Outro bom momento, se
pode ser descrito assim, foi
quando Serra, num rompante, a transformou em vítima
-e ouviu na despedida, como resposta, uma conclamação a levar duas mulheres no
segundo turno.
Muito contidos ao longo
do "debate" que não houve,
os três principais só se mostraram sorridentes no final,
repisando discursos. E até
aparentando sinceridade,
como Dilma, ao declarar "o
quanto é exaustivo".
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