São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2010

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ANÁLISE

Sem embate, encontro só causou tédio

Muito contidos, três adversários só se mostraram sorridentes no final

NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

Foi um debate tedioso, certamente por força das regras, criadas para impedir o confronto, por acordo entre os candidatos. Mas seria possível algum debate, de fato, se no momento da transmissão os quatro se dispusessem ao questionamento.
Eles não quiseram, nem sequer Plínio de Arruda Sampaio, franco-atirador em outros e ontem com a mente divagando por toda parte, incapaz até de humor.
O debate se encerrou, de fato, no início do terceiro bloco, quando José Serra, ao ter a oportunidade de escolher a quem perguntar, evitou Dilma Rousseff. Era até então o mais disposto ao questionamento do governo, apontando o dedo seguidamente na direção de Dilma, porém escolheu Marina Silva para tratar de educação.
Ambos, Serra e Marina, atravessaram boa parte do programa em mesuras um para o outro, como se concordassem em tudo ou quase tudo, de olho no segundo turno. A candidata verde fez leves restrições ao tucano sobre educação em São Paulo e Bolsa Família.
Ainda assim, levou ao único momento, perto do final, de descontrole de Serra. Mal se percebia o que Marina dizia, mas ela atingiu o candidato tucano, que reagiu em tom de ataque, "não use sua régua para medir os outros". Já passada a meia-noite, acordou muita gente.
Diferentemente de Serra, Marina ainda enfrentou Dilma diretamente, mas esta se mostrou preparada para desviar qualquer contraposição. Dizia o que queria, de imediato, como se não houvesse pergunta, mas um tema geral sobre o qual se estendia com discurso preparado.
A exemplo do tucano, a petista evitou fazer perguntas diretas para o adversário maior. E conseguiu deixar o registro da vinculação com Lula logo no início.
Se houve perda para a candidata governista, se deve à sua quase alienação nos primeiros blocos, o ar ausente, que aparentava exaustão. Em contraste, Serra buscava se apresentar assertivo -ainda que por vezes isso se confundisse em negatividade e, no limite, arrogância.
Dilma e Serra, tecnocratas ambos, empataram sobretudo na linguagem cifrada, denunciando o vício administrativo, o que Marina foi mais feliz em evitar. Também conseguiu, coisa rara no programa, deixar uma imagem aparentemente pensada, confrontando seu "verde" com "azul" e "rosa", para romper com o "plebiscito".
Outro bom momento, se pode ser descrito assim, foi quando Serra, num rompante, a transformou em vítima -e ouviu na despedida, como resposta, uma conclamação a levar duas mulheres no segundo turno.
Muito contidos ao longo do "debate" que não houve, os três principais só se mostraram sorridentes no final, repisando discursos. E até aparentando sinceridade, como Dilma, ao declarar "o quanto é exaustivo".


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