São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2010

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No RN, Rosalba puxa votos para sigla sem se opor a Dilma

SILVIO NAVARRO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO GRANDE DO NORTE

"No meu palanque, tem Garibaldi, que é PMDB, que é Lula, que está com Dilma. Então deixa o povo decidir."
É assim que Rosalba Ciarlini (DEM), 57, sintetiza a engenharia política que neutralizou o discurso de candidata anti-Lula e, se a corrida terminasse hoje, a faria vencer no primeiro turno a disputa ao governo do Rio Grande do Norte, segundo pesquisas.
A frase foi dita à Folha há três semanas, num intervalo entre seis badalados minicomícios na região do Potengi (no agreste do Estado), onde ela, com microfone em punho, traduz ao eleitorado:
"Se eu ganhar, vocês sabem quem vai ficar no meu lugar no Senado? O pai do Gari. Serão dois "Garis" para o Rio Grande do Norte, e ainda tem o Jajá. Três senadores abrem portas em qualquer ministério", disse.
Brizolista no início da carreira política, a senadora do DEM concorre na chapa com Garibaldi Alves Filho (PMDB), líder nas pesquisas à reeleição ao Senado.
O Jajá a que ela se refere em todos os discursos é José Agripino Maia (DEM), líder da artilharia pesada contra o governo Lula e protagonista de um dos maiores embates no Senado com a então ministra Dilma Rousseff (PT), hoje candidata à Presidência no campo político rival.
Antes chamada de "afilhada" política de Agripino no Senado, hoje é ela quem alavanca os votos do senador.
O Rio Grande do Norte possui 2,2 milhões de eleitores -1,65% do país. Há oito anos, é administrado por Wilma de Faria (PSB).

ROSA
Com a dianteira nas pesquisas, Rosalba, ou só Rosa como adotou nesta eleição, promete ampliar o Bolsa Família e se esquiva do confronto à Presidência.
A campanha não faz nenhuma menção ao candidato do PSDB ao Planalto, José Serra, no material gráfico nem na propaganda de rádio e TV. O DEM está coligado ao PSDB no plano nacional. Bandeiras do tucano só foram vistas nas duas passagens dele pelo Estado.
Ex-prefeita de Mossoró (segunda cidade mais populosa do Estado), Rosalba trocou o azul do DEM pelo rosa. Também mudou o corte de cabelo e emagreceu.
Desde o início da corrida, ela só usa roupas rosa, além de broches e presilhas de cabelo com o tema. O estafe que a acompanha diariamente, idem, num colorido que chega a se aproximar do vermelho, conforme a multidão.

VOTO CRUZADO
Dono de uma barraquinha de doces na periferia de Natal, Genival França, 60, comenta, ao observar a candidata lhe acenar do alto do "Rosamóvel" (caminhão pequeno com palco improvisado na carroceria): "Meu voto é rosa. Mas para presidente é na [candidata] do Lula".
Com o microfone à mão, Rosalba circula em carro aberto saudando moradores.
"Alô, pessoal da oficina mecânica! Vocês vão ter sucesso", diz. "Meus amigos aí do bar! Time bom ganha de goleada. Vamos levar no primeiro turno, hein?"
No corpo a corpo, Rosalba tem obsessão por crianças. Em 12 quadras, pegou sete no colo. "Eu sou médica, mas, por causa das crianças, parecia mais que era professora."
Enquanto caminha, sua irmã, Rosina, é quem anota pedidos, endereços dos eleitores e demandas. Também a acompanha um equipado estafe de produção da campanha, orçada em R$ 12 milhões, a mais cara do Estado.
Segundo pesquisas, o voto "casado" não ocorre no Estado. Dilma tem ampla dianteira sobre Serra, mas os candidatos apoiados pela presidenciável petista não conseguiram deslanchar.
É só quando se fala sobre o trio de adversários -Iberê Ferreira (PSB), Carlos Eduardo Alves (PDT) e Wilma de Faria (PSB), esta candidata ao Senado- que Rosalba esquece a fala mansa, franze a testa e discursa como senadora do DEM: "Eles estão desesperados, veja que é baixaria em todo lugar".


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