|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
ANÁLISE
Agora é Dilma
FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO
Com a exceção do "quebra-molas" que acabou levando a eleição presidencial
para o segundo turno, a vitória de Dilma Rousseff foi conduzida com grande perícia
pelo regente de todo o processo: o presidente Lula.
É até uma ironia que a imposição da segunda rodada
tenha sido motivada, em alguma medida, pelo caso de
Erenice Guerra na Casa Civil.
Afinal, a escolha da sucessora-problema para o cargo foi
obra de Dilma, não de Lula.
Não são poucas as vitórias
obtidas pelo presidente ao
fim do processo eleitoral e de
quase oito anos de governo.
Nem desprezíveis, mas
perfeitamente contornáveis,
os riscos assumidos pelo governo na economia para que
o presidente fizesse de "um
poste" o seu sucessor.
Lula elegeu Dilma. PT e coligados, a maioria no Congresso. O presidente deve
deixar o cargo como o mais
bem avaliado no período pós
redemocratização e é respeitado internacionalmente.
Há quase 25 anos o Brasil
não crescia como deve crescer em 2010. Em oito anos, foram 15 milhões de empregos
formais e, o mais significativo, 32 milhões de pessoas
(quase meia França) ascenderam às classes A, B e C.
Isso é passado. Mas Lula
também deixa perspectivas.
Na média de seus dois
mandatos, o país terá crescido 4% ao ano. Se (e esse é um
grande "se") Dilma conseguir puxar essa taxa para 5%
ao ano, o Brasil poderá tirar
mais 36 milhões da miséria
até 2014 (completando a parte da "França" que falta).
Mas Lula e Dilma nunca
deram o braço a torcer nem
reconheceram as bases sobre
as quais construíram as realizações que agora mantêm o
PT na Presidência. O Plano
Real de FHC foi apenas a primeira delas.
As privatizações e as concessões do governo anterior,
que Serra escondeu na campanha, dinamizaram vários
setores, como os de telecomunicações, mineração, gás
e o do próprio petróleo.
Dilma foi eleita com um
viés mais estatizante. No discurso eleitoral, a presidente
eleita ficou mais à esquerda
do que o próprio Lula.
O presidente é um convertido ao mercado desde 2002.
Foi especialmente por meio
do capital privado que ele
turbinou a economia.
Basta lembrar que, até a
crise de 2008/2009, a taxa de
investimentos privados (que
garantem o crescimento sem
inflação) se aproximava de
patamares inéditos.
Já o setor público, apesar
de todo o discurso dilmista
de "Estado forte", investe
uma ninharia. Ao contrário,
apenas gasta. E mal.
Ontem, após votar, Lula
delineou seu papel a partir
de 1º de janeiro: "Vou ter
muitas tarefas. Mas a última
coisa que eu quero é ter tarefas dentro do governo. No dia
1º eu desembarco. E ela [Dilma] continua tocando".
Portanto, agora é Dilma.
Não são injustificadas as
apreensões de quem produz,
investe e paga impostos com
os rumos do gasto público
após essa troca de comando.
Texto Anterior: "Eu não posso, não quero e não devo", afirma Dirceu sobre cargo Próximo Texto: Dilma manterá estabilidade, diz Palocci Índice | Comunicar Erros
|