São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

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PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010

Sigilo de filha de Serra foi violado com papel falso

  RECEITA ADMITE FALSIFICAÇÃO   DOCUMENTO TEM ERROS "GROSSEIROS", DIZ TABELIÃO  PIVÔ TEM DUAS CONDENAÇÕES

Falso procurador que pediu acesso aos dados teve 4 CPFs cancelados e acumula 16 processos, 6 deles na área criminal

DE BRASÍLIA
DE SÃO PAULO

A Receita Federal quebrou o sigilo fiscal de Veronica Serra, filha do candidato a presidente José Serra (PSDB), com uma procuração falsa.
O documento solicitando acesso ao sigilo fiscal de Veronica Serra tinha registro em cartório onde ela não tem firma reconhecida, carimbo que o tabelião afirma ser forjado e assinatura que ela própria não reconhece.
"A falsificação do reconhecimento de firma é grosseira", diz Fábio Tadeu Bisognin, do 16º Tabelião de Notas de SP. Para ele, há seis adulterações na procuração.
Veronica diz não ter feito o pedido de consulta.
O técnico em contabilidade Antônio Carlos Atella Ferreira foi quem apresentou a procuração falsa para pegar na Receita os dados sigilosos da filha do candidato tucano.
Com o documento falso em mãos, em 30 de setembro de 2009, a servidora Lúcia Milan, da agência da Receita em Santo André, coletou as declarações de Imposto de Renda de Veronica referentes aos exercícios de 2007 a 2009, e repassou-as a Ferreira no mesmo dia.
Só após a imprensa publicar que o documento não era verdadeiro, a Receita admitiu que "houve falsificação" da assinatura de Veronica. O documento foi entregue ao Ministério Público Federal, que investiga o caso.
"A mídia já noticia que a senhora Veronica Serra não confirma a assinatura e que o cartório não confirma o reconhecimento da firma. Diante desses fatos, aconteceu a falsificação de documento público federal", disse Otacílio Cartaxo, secretário-geral da Receita, que leu uma nota e não quis dar entrevistas.
Cartaxo, contudo, isentou de culpa a servidora Lúcia Milan, responsável pelo acesso aos dados. Disse que documentos "sem sinais de fraude ou adulteração" devem ser aceitos. Segundo ele, recusar essa documentação é classificado como infração pelo Estatuto do Servidor.

CRIMES E DÍVIDAS
O autor da procuração que foi usada para quebrar o sigilo da declaração de renda de Veronica tem perfil de estelionatário, segundo policiais ouvidos pela Folha.
Ferreira, 62, já foi condenado duas vezes em 1975 (por lesões corporais leves e sedução de menor, crime que hoje é classificado como estupro), teve quatro CPFs cancelados e coleciona 16 processos na Justiça, 6 na área criminal.
Não chegou a ser preso porque as condenações eram por períodos curtos: 30 dias de prisão (no caso de lesão corporal) e 2 meses e 10 dias de detenção, no processo de sedução de menor.
Os CPFs cancelados foram tirados em São Sebastião (SP), Porto Velho (RO), em Cornélio Procópio (PR) e Santo André (SP), onde ele mora.
O atual CPF foi expedido em Mauá, onde foi quebrado o sigilo de outras quatro pessoas ligadas a Serra, entre eles o vice-presidente do PSDB Eduardo Jorge. A agência de Mauá é subordinada à delegacia de Santo André.
O PSDB pediu a demissão de Cartaxo e representou ao Ministério Público responsabilizando a campanha de Dilma Rousseff pelo episódio.
O presidente Lula defendeu a Receita e Dilma disse ser "leviandade" tentar associá-la às quebras de sigilo de pessoas ligadas ao PSDB.
(LEONARDO SOUZA, FERNANDA ODILLA, MATHEUS LEITÃO, MARIO CESAR CARVALHO E FLÁVIO FERREIRA)


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