São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2010

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MAURO PAULINO

Pesquisa eleitoral


É admirável que a sondagem, ao consultar 0,004% dos eleitores, chegue tão perto da proporção final dos votos


DILMA VENCEU Serra por 56% a 44%. Os números que tantos buscaram. O Datafolha os mostrou exatamente assim, por três vezes seguidas, nos dias 21, 26 e 28. Na véspera, por um capricho da estatística, como a lembrar que a precisão numérica é uma quimera dos pesquisadores, os percentuais variaram um ponto. Foi um acerto tão preciso quanto os três anteriormente divulgados. Palavra da ciência estatística.
É admirável que ao consultar apenas 0,004% dos eleitores a pesquisa chegue repetidas vezes tão próxima da proporção final dos votos, entrevistando diferentes pessoas em lugares diversos. Mesmo pesquisadores mais habituados ao exercício prático das técnicas de amostragem encantam-se com a eficácia do instrumento e consideram esse um dos milagres da ciência.
O Brasil, com sua extensão territorial, diversidades geográficas e socioculturais transforma-se a cada estudo em um imenso desafio a ser desvendado. Exige dos pesquisadores um domínio minucioso da distribuição das entrevistas e da definição dos pesquisados que representarão o universo total de eleitores. As técnicas hoje utilizadas foram desenvolvidas especialmente para representar essas diversidades com a máxima precisão e agilidade. Por isso as cotas no último estágio, tão discutidas e renovadamente eficientes.
Para além da técnica, sobre todas as pesquisas, sejam de opinião pública ou de mercado, diversas variáveis exercem influência tanto na elaboração quanto na execução e análise dos resultados. Cada uma das etapas é permeada pela conjuntura política, social, econômica e de mercado. Já a pesquisa eleitoral está exposta a uma influência adicional que se sobrepõe a todas: a paixão política. É esta a maior ameaça ao trabalho de quem apura os anseios do eleitorado. Blindar o instituto da pressão política para que mantenha a isenção durante o processo eleitoral está entre as principais atribuições dos que comandam as pesquisas. Isto libera o caminho para o livre exercício da técnica.
O Datafolha conta com o privilégio de realizar pesquisas eleitorais apenas para veículos de comunicação. Isto não o torna melhor nem mais preciso, apenas facilita o isolamento térmico do instituto. Seria um exercício de transparência importante, para o bem da pesquisa eleitoral, que cada um que divulga resultados registrasse também por quais partidos é contratado no local de abrangência da pesquisa divulgada. Isto auxiliaria os consumidores daquela pesquisa a analisar tanto os números propagados quanto as previsões feitas pelo instituto e seus proprietários.
Os erros do primeiro turno, se vistos sem paixão e oportunismos, ajudariam a entender comportamentos importantes do eleitorado. A isto se dedicarão os institutos. Quando há ondas como a de Marina, quantos continuam a decidir-se até o momento do voto? Até que ponto a ordem e o número de votações na urna eletrônica atrapalham eleitores? A defasagem entre os números de Datafolha e Ibope, este inclusive na boca de urna, em relação aos resultados finais seriam mesmo erros ou mais uma contribuição da pesquisa eleitoral para compreender a distância entre intenção e gesto diante da urna? Quantos eleitores saíram dos colégios achando que votaram em Dilma sem que o tivessem feito?
Para além das pressões, elevar a técnica para buscar respostas é o que fascina e apaixona nessa intensa labuta que é produzir e divulgar pesquisa eleitoral.


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