São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2010

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Para EUA, Carla Bruni é arma de Sarkozy no Brasil

Diplomatas americanos descrevem relação entre países como "festival do amor"

Papéis divulgados pelo WikiLeaks dizem que francês fechou acordos militares por causa de popularidade do casal

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Se o presidente Lula procurava o "ponto G" na relação com George W. Bush, seu colega Nicolas Sarkozy usou a primeira-dama Carla Bruni para "promover os interesses nacionais franceses no Brasil" -um "festival do amor".
E foi bem-sucedido, na opinião preocupada dos EUA, ao forjar uma relação pessoal com o brasileiro que desembocou em acordos militares bilionários e numa forte agenda bilateral.
As considerações da relação Brasil-França estão em um despacho de novembro de 2009 feito pelo embaixador dos EUA em Paris, Charles Rivkin, feito à luz de um encontro Lula-Sarkozy e vazado pelo WikiLeaks.
Para os EUA, o apoio francês a pleitos brasileiros (G8 ampliado, Olimpíada, Conselho de Segurança) mais acordos militares e intercâmbio cultural deram aspectos práticos à ideia do país de "virar uma potência mundial nas próximas décadas".
O texto informa que Lula e Sarkozy começaram "um caso de amor" e hoje se veem como que "olhando num espelho", segundo definição de diplomatas brasileiros.
E há a primeira-dama, "la" Bruni, que aparece em um comentário que beira o jocoso. "Bruni não participou da mais recente viagem do presidente francês a Brasília [para o Sete de Setembro de 2009], para decepção do público brasileiro, que segundo a embaixada brasileira em Paris, aprecia bastante o fato de que o primeiro-casal da França geralmente tira férias no seu país", diz Rivkin.
"Nós julgamos que Sarkozy tira todo o proveito da popularidade individual de Carla Bruni e da popularidade deles como um casal para promover os interesses nacionais franceses no Brasil", diz, sem detalhar mais.
Rivkin diz que o diplomata brasileiro Bruno Carrilho relatou que o engajamento de Sarkozy foi vital para os negócios por aqui -e duvidou que Barack Obama fizesse o mesmo. A Folha não localizou Carrilho em Paris.

ACORDO MILITAR
Grande parte do relato é dedicado aos negócios bélicos de Sarkozy, que viu o Brasil passar a ser o maior comprador de armas francesas em seu mandato.
Além do acordo militar de R$ 20 bilhões, descreve como os franceses convenceram os brasileiros a adquirir 36 caças Rafale -por até mais R$ 10 bilhões, negócio a ser fechado semana que vem.
Relativiza a promessa de transferência de tecnologia, lembrando sutilmente que submarinos e caças têm componentes americanos (logo, sujeitos a vetos). Cita a fragilidade brasileira no setor, em que foi ultrapassado por Chile e Venezuela.
Para finalizar, Rivkin afirma que todos os movimentos de Sarkozy visam uma entrada maior da França na América Latina, o que preocupa estrategicamente os EUA.
Mas também aponta razões mais comezinhas: o francês usaria os acordos com o Brasil como peça na campanha à reeleição em 2012. Para os EUA, o "festival do amor" ainda vai longe.


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