São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2010

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OPINIÃO

Diplomacia e WikiLeaks

Diplomatas devem ter discussões francas e garantia da confidencialidade

THOMAS A. SHANNON
ESPECIAL PARA A FOLHA

O presidente Obama e a secretária de Estado Hillary Clinton decidiram dar prioridade à revigoração das relações dos EUA no mundo.
Ambos têm trabalhado com afinco para fortalecer as parcerias existentes e construir novas parcerias no enfrentamento de desafios comuns -das mudanças climáticas e da eliminação da ameaça das armas nucleares até a luta contra doenças e contra a pobreza.
Como embaixador dos Estados Unidos no Brasil, tenho orgulho de fazer parte desse esforço. Consideramos o país um parceiro essencial e confiável no continente e no mundo e estamos empenhados em aprofundar nossas relações com o governo e o povo do Brasil.
Naturalmente, mesmo uma relação sólida passa por desafios. Acabamos de ver isso nos últimos dias, quando documentos supostamente originados de computadores do Departamento de Defesa dos EUA tornaram-se objeto de reportagens na imprensa.
Esses documentos parecem conter avaliações de nossos diplomatas sobre políticas, negociações e líderes mundiais, bem como relatórios sobre conversas privadas com pessoas de dentro e de fora de outros governos.
Os EUA lamentam profundamente e condenam a revelação de qualquer informação que se pretende confidencial. Diplomatas devem conduzir discussões francas com seus pares e eles devem ter a garantia da confidencialidade dessas conversas.
O diálogo honesto, dentro de e entre governos, faz parte da base das relações internacionais. Não poderíamos manter a paz, a segurança e a estabilidade internacionais sem isso.
Como disse a secretária Clinton, "essa divulgação não é apenas um atentado contra os interesses da política externa dos EUA. É um atentado contra a comunidade internacional, contra as alianças e parcerias, as conversações e as negociações que protegem a segurança mundial e fazem avançar a prosperidade econômica".
Nos Estados Unidos, relatórios internos dos diplomatas são um dos muitos elementos que formam nossas políticas, que em última instância são formuladas pelo presidente ou pela secretária de Estado. E essas políticas são públicas, objeto de milhares de páginas de discursos, declarações, informes oficiais e outros documentos que o Departamento de Estado disponibiliza livremente online ou em outros locais.
Mas as relações entre governos não são a única preocupação. Os diplomatas dos EUA reúnem-se com pessoas que trabalham com direitos humanos nos países, jornalistas, líderes religiosos e outros representantes não governamentais que oferecem suas próprias e sinceras percepções.
Essas conversas também dependem de responsabilidade e de confiança. Por exemplo, se um ativista anticorrupção passar informações sobre conduta oficial imprópria, ou um assistente social compartilhar documentação sobre violência sexual, a revelação da identidade da pessoa envolvida poderá ter graves repercussões. Em algumas partes do mundo, essas repercussões podem incluir prisão, tortura ou até a morte.
Os proprietários do site WikiLeaks alegam possuir cerca de 250 mil documentos confidenciais, muitos dos quais foram divulgados para a mídia. Quaisquer que sejam os motivos para a publicação desses documentos, está claro que a sua divulgação traz riscos reais para pessoas reais e, muitas vezes, para as mesmas pessoas que dedicaram a vida para proteger outros.
Uma ação cuja intenção é provocar os poderosos pode, em vez disso, pôr em risco aqueles que não têm poder.
Nós apoiamos e estamos dispostos a manter debates genuínos sobre questões prementes de política pública.
Porém, divulgar documentos sem o devido cuidado e sem medir as consequências não é a forma de iniciar um debate dessa natureza.
De nossa parte, o governo dos EUA está empenhado em manter a segurança das nossas comunicações diplomáticas e tomando as medidas necessárias para assegurar que sejam mantidas em sigilo. Estamos atuando de forma agressiva para que esse tipo de violação não ocorra novamente. E continuaremos a trabalhar para fortalecer a parceria com o Brasil e avançar nos assuntos de importância para nossos países.
Não podemos fazer menos do que isso. Estou em contato estreito com as autoridades do governo brasileiro para assegurar nosso foco contínuo sobre as questões e tarefas nas quais estamos trabalhando. O presidente Obama, a secretária Clinton e eu continuamos comprometidos a ser parceiros confiáveis à medida que buscamos construir um mundo melhor e mais próspero para todos.

THOMAS A. SHANNON é embaixador dos EUA no Brasil


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