São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2011

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Economia desacelera, mas consumo continua em alta

PIB cresceu 0,8% no segundo trimestre, depois de subir 1,2% de janeiro a março

IBGE vê tendência de esfriamento em todos os setores e BC diz que ritmo condiz com meta para inflação em 2012


PEDRO SOARES
CIRILO JUNIOR

DO RIO

A economia brasileira cresceu menos no segundo trimestre, com a perda de ritmo concentrada na indústria -afetada pela valorização do real e pelos juros mais altos.
Foco de preocupação do governo por conta da inflação, o consumo, entretanto, ganhou força, lastreado pelo avanço do emprego e do rendimento, e impulsionou o setor de serviços no país.
Tal retrato surge dos números do PIB (Produto Interno Bruto, soma da produção de bens e serviços) de abril a junho, divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
No período, a economia do país cresceu 0,8% na comparação com o primeiro trimestre, quando a alta foi de 1,2%.
A foto é antiga, e reflete realidade já esperada. Mas alimenta preocupações com cenário que una inflação e crescimento baixo: o ritmo entre produção e consumo segue em descompasso.
Prejudicada pela alta das importações e em desvantagem para competir no exterior com o real valorizado, a indústria cresceu apenas 0,2% ante o 1º trimestre.
De abril a junho, as famílias, que tinham pisado no freio no início do ano, em parte em função de medidas mais restritivas ao crédito, voltaram a gastar. E impulsionaram ramos como comércio e serviços de informação (telefonia e informática).
"O mercado de trabalho continuou firme e o crédito não secou como o esperado. Isso estimulou o consumo", diz Rafael Bacciotti, analista da Tendências Consultoria.
A boa notícia, no entanto, foi o aumento dos investimentos, de 1,7%. Isso sinaliza que as empresas podem estar se preparando para a oferta maior lá na frente, via compra de equipamentos.

FÔLEGO
Apesar da expansão do investimento, Silvia Matos, economista da FGV (Fundação Getulio Vargas), diz que a alta do consumo traz risco de inflação maior. Ela acha que o BC foi "precipitado" ao reduzir o juro em 0,50 ponto.
Já Aurélio Bicalho, do Itaú-Unibanco, avalia, em relatório, que o consumo está em níveis inferiores aos de 2010. E que pode perder mais fôlego no restante do ano.
Numa perspectiva mais longa, os dados do PIB mostram de forma mais clara o esfriamento da economia. A expansão foi de 4,7% nos últimos 12 meses encerrados em junho -em 2010, a alta havia sido de 7,5%.
Após a divulgação, o presidente do BC, Alexandre Tombini, divulgou nota para dizer que o PIB mostrou ritmo "consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012".
Para Rebecca Palis, gerente do IBGE, o PIB mostra "desaceleração generalizada".
Ela lembra que todos os subsetores, a exceção de serviços de informação, cresceram menos que em 2010.
Analistas esperam uma expansão do PIB um pouco mais moderada neste e no próximo trimestres - de 0,5% a 0,7%-, o que deve resultar em crescimento na casa dos 3,5% em 2011.
As estimativas de um crescimento menor do PIB, no entanto, já estavam dadas antes mesmo da divulgação do indicador no segundo trimestre, dentro do esperado.
O Itaú-Unibanco manteve previsão de alta de 3,6% para o ano e espera impacto maior da crise global em 2012.
Para Thaiz Marzola Zara, da Rosenberg & Associados, a decisão do BC de reduzir os juros pode, porém, melhorar a confiança e trazer novos investimentos, o que estimularia mais a economia.


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