São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2010

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Campanha não teve discussão de propostas

Escândalos soterraram debate sobre projetos

DE SÃO PAULO

Quando o eleitor parar em frente à urna, terá passado por três meses de campanha. Dificilmente, porém, poderá dizer que os 90 dias serviram para deixá-lo mais esclarecido a respeito das diferenças entre os programas dos principais candidatos à Presidência. Até porque eles não apresentaram programa.
A minirreforma eleitoral de 2009 introduziu a obrigatoriedade de apresentação das propostas de governo no registro da candidatura. Apesar disso, os principais candidatos a presidente não fecharam um programa consolidado -a regra não detalha como devem ser os planos.
José Serra (PSDB) apresentou dois discursos como plano de governo. Neles, ataca o governo federal, fala de suas origens, e compara, veladamente, o presidente Lula ao rei francês Luís 14, cujo lema era "o Estado sou eu".
Dilma Rousseff (PT) primeiro registrou um plano polêmico, com propostas como controle social da mídia. Após repercussão negativa, foi trocado por outro que continha apenas propostas genéricas, como o fortalecimento da "democracia política, econômica e social".
Para especialistas, a ausência de debate foi a maior característica de uma campanha em muitos aspectos marcada pela despolitização.
"Não houve discussões sobre modelos de Brasil. Por exemplo, quando o tema era educação, o debate era apenas sobre o número de escolas a serem construídas, como se os problemas centrais do país pudessem ser resolvidos com meros ajustes", afirma Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP.
"A partir de um momento, a campanha virou gestão de escândalos", completa.
Marco Villa, professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar, diz ter se decepcionado com o "baixo nível" da campanha.
"Imaginei que teríamos uma campanha acesa, com debate e participação, mas aconteceu o contrário."
De acordo com Villa, a oposição não cumpriu seu papel de incendiar a disputa com confronto de ideias.
Fabiano Santos, professor da Uerj, concorda que houve despolitização, mas não vê motivo para preocupação. "Faz parte do ciclo democrático. Em eleições de continuidade, a discussão é apenas sobre quem é melhor para manter o projeto em curso."
Para Fábio Wanderley Reis, professor emérito da UFMG, o continuísmo deve ser lido como politização: "O aspecto social se manteve como dimensão subjacente durante toda a campanha. Isso é ótimo para o país".
(UIRÁ MACHADO)


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