|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Campanha não teve discussão de propostas
Escândalos soterraram debate sobre projetos
DE SÃO PAULO
Quando o eleitor parar em
frente à urna, terá passado
por três meses de campanha.
Dificilmente, porém, poderá
dizer que os 90 dias serviram
para deixá-lo mais esclarecido a respeito das diferenças
entre os programas dos principais candidatos à Presidência. Até porque eles não apresentaram programa.
A minirreforma eleitoral
de 2009 introduziu a obrigatoriedade de apresentação
das propostas de governo no
registro da candidatura. Apesar disso, os principais candidatos a presidente não fecharam um programa consolidado -a regra não detalha
como devem ser os planos.
José Serra (PSDB) apresentou dois discursos como plano de governo. Neles, ataca o
governo federal, fala de suas
origens, e compara, veladamente, o presidente Lula ao
rei francês Luís 14, cujo lema
era "o Estado sou eu".
Dilma Rousseff (PT) primeiro registrou um plano polêmico, com propostas como
controle social da mídia.
Após repercussão negativa,
foi trocado por outro que
continha apenas propostas
genéricas, como o fortalecimento da "democracia política, econômica e social".
Para especialistas, a ausência de debate foi a maior
característica de uma campanha em muitos aspectos marcada pela despolitização.
"Não houve discussões sobre modelos de Brasil. Por
exemplo, quando o tema era
educação, o debate era apenas sobre o número de escolas a serem construídas, como se os problemas centrais
do país pudessem ser resolvidos com meros ajustes", afirma Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP.
"A partir de um momento,
a campanha virou gestão de
escândalos", completa.
Marco Villa, professor do
Departamento de Ciências
Sociais da UFSCar, diz ter se
decepcionado com o "baixo
nível" da campanha.
"Imaginei que teríamos
uma campanha acesa, com
debate e participação, mas
aconteceu o contrário."
De acordo com Villa, a
oposição não cumpriu seu
papel de incendiar a disputa
com confronto de ideias.
Fabiano Santos, professor
da Uerj, concorda que houve
despolitização, mas não vê
motivo para preocupação.
"Faz parte do ciclo democrático. Em eleições de continuidade, a discussão é apenas
sobre quem é melhor para
manter o projeto em curso."
Para Fábio Wanderley
Reis, professor emérito da
UFMG, o continuísmo deve
ser lido como politização: "O
aspecto social se manteve como dimensão subjacente durante toda a campanha. Isso
é ótimo para o país".
(UIRÁ MACHADO)
Texto Anterior: Presidente 40: Vinheta destaca a cobertura da eleição de 2010 Próximo Texto: Alckmin deve ser eleito no 1º turno em SP Índice | Comunicar Erros
|