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Quanto mais pobre a cidade, maior a proporção de nulos
Análise sugere que parte do eleitorado escolheu nomes, mas errou na hora de votar
Para cientista político Rubens Figueiredo, os votos nulos caem no 2º turno porque diminui o número de escolhas
UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO
Há mais que protesto por
trás dos votos nulos. A análise detalhada da votação sugere que uma parte significativa do eleitorado que anulou
o voto gostaria de ter escolhido um candidato, mas errou
diante da urna eletrônica.
A maior evidência é a correlação que existe entre voto
nulo e IDH (índice de desenvolvimento humano).
Uma correlação entre dois
fatores não implica relação
de causa e efeito entre um e
outro. O que uma correlação
mostra é que, quando um
dos fatores tem uma variação, o outro também a tem.
No primeiro turno, a tendência foi clara: quanto menor o IDH (municípios mais
pobres e com escolaridade
mais baixa), maior o percentual de votos nulos.
No segundo turno, quase
não existe correlação entre
IDH e voto nulo.
Segundo o cientista político Rubens Figueiredo, "a
possibilidade de erro do eleitor menos escolarizado é
maior no primeiro turno porque são seis candidatos. No
segundo turno, quando a votação fica bem mais simples,
o voto nulo devido a erro cai
significativamente".
A diminuição do percentual de votos nulos no segundo turno tem sido o padrão
desde 2002. Neste ano, foram
5,5% de votos nulos no primeiro turno e 4,4% no segundo, uma redução de 20%.
No Nordeste, a diminuição
foi ainda maior, passando de
8% de votos nulos no primeiro turno para 4,7% no segundo (em 2002, a redução havia
sido de 12,4% para 5%).
Reforça a tese o fato de a
distribuição dos votos brancos ser homogênea pelo país,
sem mudança de padrão devido a fatores como localização, escolaridade e renda.
Além disso, no segundo
turno, o índice de voto nulo
fica acima da média particularmente em Estados onde
também houve disputa para
governador.
PESQUISAS
Na avaliação de Mauro
Paulino, diretor-geral do Datafolha, o voto nulo devido a
erro dos eleitores é um dos fatores que precisam ser levados em consideração na avaliação do desempenho dos
institutos de pesquisa.
"Entre a intenção e a concretização do voto existem
fatores que interferem no resultado. A sequência da votação na urna eletrônica, mais
complexa no primeiro turno
do que no segundo, faz com
que alguns eleitores anulem
o voto contra sua própria
vontade", afirma Paulino.
O Datafolha, na véspera do
primeiro turno, registrava
2% de votos brancos e nulos
somados. Nas urnas, foram
9%. No segundo turno, o instituto apontava 4%, e o resultado da eleição foi 7%.
Em seu balanço do primeiro turno, o Ibope também
afirmou que a "eleição complexa, com muitos cargos,
pode ter gerado erro do eleitor ao registrar seu voto, anulando-o involuntariamente",
atribuindo "maior probabilidade de erro" aos eleitores
menos escolarizados.
Por essas razões, Rubens
Figueiredo defende que seja
alterada a ordem da votação.
"Seria mais lógico colocar o
presidente em primeiro lugar
na votação, que é o cargo
mais importante", disse.
O cientista político David
Fleischer, professor emérito
da UnB, concorda que há
uma parte de voto nulo que
se deve a erro, mas ele defende a atual sequência de votação, por estimular o voto para os demais cargos.
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