São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2010

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Quanto mais pobre a cidade, maior a proporção de nulos

Análise sugere que parte do eleitorado escolheu nomes, mas errou na hora de votar

Para cientista político Rubens Figueiredo, os votos nulos caem no 2º turno porque diminui o número de escolhas

UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO

Há mais que protesto por trás dos votos nulos. A análise detalhada da votação sugere que uma parte significativa do eleitorado que anulou o voto gostaria de ter escolhido um candidato, mas errou diante da urna eletrônica.
A maior evidência é a correlação que existe entre voto nulo e IDH (índice de desenvolvimento humano).
Uma correlação entre dois fatores não implica relação de causa e efeito entre um e outro. O que uma correlação mostra é que, quando um dos fatores tem uma variação, o outro também a tem.
No primeiro turno, a tendência foi clara: quanto menor o IDH (municípios mais pobres e com escolaridade mais baixa), maior o percentual de votos nulos.
No segundo turno, quase não existe correlação entre IDH e voto nulo.
Segundo o cientista político Rubens Figueiredo, "a possibilidade de erro do eleitor menos escolarizado é maior no primeiro turno porque são seis candidatos. No segundo turno, quando a votação fica bem mais simples, o voto nulo devido a erro cai significativamente".
A diminuição do percentual de votos nulos no segundo turno tem sido o padrão desde 2002. Neste ano, foram 5,5% de votos nulos no primeiro turno e 4,4% no segundo, uma redução de 20%.
No Nordeste, a diminuição foi ainda maior, passando de 8% de votos nulos no primeiro turno para 4,7% no segundo (em 2002, a redução havia sido de 12,4% para 5%).
Reforça a tese o fato de a distribuição dos votos brancos ser homogênea pelo país, sem mudança de padrão devido a fatores como localização, escolaridade e renda.
Além disso, no segundo turno, o índice de voto nulo fica acima da média particularmente em Estados onde também houve disputa para governador.

PESQUISAS
Na avaliação de Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, o voto nulo devido a erro dos eleitores é um dos fatores que precisam ser levados em consideração na avaliação do desempenho dos institutos de pesquisa.
"Entre a intenção e a concretização do voto existem fatores que interferem no resultado. A sequência da votação na urna eletrônica, mais complexa no primeiro turno do que no segundo, faz com que alguns eleitores anulem o voto contra sua própria vontade", afirma Paulino.
O Datafolha, na véspera do primeiro turno, registrava 2% de votos brancos e nulos somados. Nas urnas, foram 9%. No segundo turno, o instituto apontava 4%, e o resultado da eleição foi 7%.
Em seu balanço do primeiro turno, o Ibope também afirmou que a "eleição complexa, com muitos cargos, pode ter gerado erro do eleitor ao registrar seu voto, anulando-o involuntariamente", atribuindo "maior probabilidade de erro" aos eleitores menos escolarizados.
Por essas razões, Rubens Figueiredo defende que seja alterada a ordem da votação. "Seria mais lógico colocar o presidente em primeiro lugar na votação, que é o cargo mais importante", disse.
O cientista político David Fleischer, professor emérito da UnB, concorda que há uma parte de voto nulo que se deve a erro, mas ele defende a atual sequência de votação, por estimular o voto para os demais cargos.


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