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Madeireiros retornam ao assentamento de Dorothy
Ministério Público pede agentes da Força Nacional de Segurança no local
Nos últimos dois meses, ao menos três veículos utilizados na retirada
de madeira apareceram queimados em Anapu
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DE BELÉM
Uma ilha de floresta cercada de pasto por todos os lados, o assentamento pelo
qual morreu a missionária
norte-americana naturalizada brasileira Dorothy Stang
vem sendo, desde o final do
ano passado, constantemente invadido por madeireiros.
A retirada ilegal de madeira do PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança, em Anapu (750 km
de Belém), reacendeu a violência na região do Pará
-uma das mais resistentes
fronteiras do desmatamento
na floresta amazônica.
Nos últimos dois meses, ao
menos três veículos utilizados pelos madeireiros foram
queimados -uma picape,
um caminhão e um trator.
Para evitar mais conflitos,
o Ministério Público Federal
pediu o envio de agentes da
Força Nacional de Segurança
ao local. Até sexta, a solicitação não havia sido atendida.
É comum ver madeireiros
entrarem no assentamento
"armados até as goelas",
conta a missionária Jane
Dwyer, herdeira do trabalho
deixado por Dorothy Stang.
"Agora, entra madeireiro
escoltado por pistoleiro. Parece procissão", diz Dwyer.
Para ela, "só Deus sabe"
quem queimou os veículos e
preferiu não envolver os assentados no episódio.
Dwyer diz que alguns trabalhadores rurais acabam recebendo dinheiro para colaborar com os invasores, mas
Felício Pontes, procurador
da República que atua no caso, afirma que eles, desde a
morte de Stang, se conscientizaram sobre a necessidade
de não se corromperem.
INVASÕES "BRUTAIS"
Segundo Dwyer, as invasões começaram em dezembro de 2009 e se tornaram
mais constantes, mais ferozes e mais brutais conforme
as eleições se aproximaram.
Isso porque, afirma, a proximidade do pleito aumentou o poder de articulação do
prefeito de Anapu, Francisco
de Assis Sousa, o Chiquinho
do PT, ex-pupilo de Stang,
hoje aliado de fazendeiros.
"Ele [Chiquinho] diz: pode
vender, pode derrubar, porque aqui não entra Ibama."
Em uma operação há cerca
de dez dias em Anapu, funcionários do Ibama foram
hostilizados por Chiquinho.
Para fiscais do órgão federal ouvidos pela Folha, há indícios de que a governadora
Ana Júlia Carepa (PT), por
apoio político, "blindou" os
fazendeiros contra ações federais. A ideia também circula entre assentados do PDS.
Mas o governo estadual
nega veementemente a possibilidade e diz que Ana Júlia
e Stang eram amigas. Segundo sua assessoria, o governo
não "blinda" ninguém.
Outro indício da teoria é
que, desde julho, o Estado
deixou de ceder policiais militares para acompanhar o
Ibama em missões.
Na sexta-feira, a reportagem procurou a assessoria
da PM, que não pôde dar sua
versão, pois disse estar "focada na operação das eleições". A Folha também ligou
para a prefeitura de Anapu,
mas não localizou o prefeito.
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