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Brasil acusa EUA e China de fazer 'guerra cambial'
Dilma critica apedrejamento de Sakineh e diz que é uma prática 'bárbara'
Presidente afirma que deve decidir em breve sobre extradição de Battisti com base em parecer da AGU
Sergio Lima/Folhapress
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Dilma e Lula durante o primeiro pronunciamento conjunto ontem, no Palácio do Planalto
MÁRCIO FALCÃO
SIMONE IGLESIAS
DE BRASÍLIA
O Brasil acusou explicitamente os Estados Unidos e a China de promoverem uma "guerra cambial" para proteger suas economias. O assunto foi um dos destaques da entrevista dada ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela presidente eleita Dilma Rousseff na primeira aparição de ambos juntos depois das eleições.
Política externa e interna, economia, oposição, 2014 e vários outros temas fizeram parte do cardápio de Dilma e Lula durante uma hora de entrevista concedida no Palácio do Planalto.
Lula disse que ele e Dilma participarão de reunião do G20, em Seul, no dia 11, para lutar pelo fim dos problemas cambiais causados pelos dois países. As queixas internacionais não ficaram restritas à área econômica.
Dilma mudou o tom das declarações do governo relacionadas à execução por apedrejamento da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, classificando a posição do presidente Mahmoud Ahmadinejad de "bárbara".
O presidente disse que, finalmente, decidirá sobre a compra de caças para a FAB e sinalizou que escolherá os Rafale franceses. Outra pendência na agenda internacional, a extradição do terrorista italiano Cesare Battisti, está perto do fim. Lula afirmou que seguirá o parecer da Advocacia-Geral da União.
GUERRA CAMBIAL
"Achamos em comum que os Estados Unidos e a China estão fazendo uma guerra cambial. Os EUA, que querem resolver o problema do seu deficit fiscal, e a China, porque sabe que não pode continuar com sua moeda subvalorizada como está", disse Lula. Ele afirmou que, se os paí-ses que integram o G20 sempre tiveram ele como preocupação nas reuniões, em Seul, levará Dilma para reforçar as críticas à política econômica mundial e defender o real.
O saldo da queda de braços entre EUA e China é repassado para o resto do mundo. Se um país combina moe-da em alta com juros elevados, como é o caso do Brasil, se torna ainda mais atrativo. Mais dólares ingressam na economia e mais o real se aprecia. Os produtos brasileiros ficam mais caros em dólar e a indústria nacional exporta menos.
"Se eles já tinham um problema para enfrentar, o Lula, agora, vão enfrentar o Lula e a Dilma", disse o presidente.
A presidente eleita destacou a importância de o G-20 atuar contra a guerra cambial. "Numa situação dessa não tem solução individual. Nunca houve. Na última vez em que houve [política de desvalorização competitiva], foi na Segunda Guerra Mundial", afirmou.
SAKINEH
Uma das principais defensoras das relações diplomáticas no governo Lula entre Brasil e Irã, Dilma condenou a decisão de Ahmadinejad de executar Sakineh por apedrejamento.
"Sou radicalmente contra o apedrejamento da iraniana. Eu não tenho status oficial para fazer isso, mas externo que acho uma coisa muito bárbara. Mesmo considerando os usos e costumes de outros países, continua sendo bárbaro o apedrejamento da Sakineh", disse.
Sakineh foi presa em 2006 sob a acusação de ter um caso com um homem que teria assassinado seu marido.
A posição de Dilma se choca com a primeira declaração de Lula sobre o caso. Em julho, ele disse que não poderia se "intrometer" em assuntos do Irã e que se passasse o governo pedindo a presidentes a libertação de presos "viraria uma avacalhação".
BATTISTI
Lula disse que a decisão de manter no Brasil ou extraditar para a Itália o terrorista Cesare Battisti está nas mãos da Advocacia-Geral da União. "Eu estou dependendo do procurador-geral da República. Se ele me der um parecer, qualquer que seja o parecer dele eu vou acatar porque ele que é o advogado, o orientador do presidente", disse. Lula se confundiu. Ele está aguardando parecer da AGU e não da Procuradoria-Geral da República. A tendência é que Lula mantenha o italiano no Brasil.
CAÇAS
Lula afirmou que deixou a compra dos caças para depois das eleições para discutir o assunto com Dilma. Ele se reunirá com a presidente eleita e com o ministro Nelson Jobim (Defesa) na próxima semana, mas sinalizou que escolherá os franceses Rafale. "Vou inclusive encontrar com o presidente [da França Nicolas] Sarkozy lá em Seul [no G20], e depois a gente vai conversar."
DIREITOS HUMANOS
Dilma disse que manterá diálogo com todos os países que tiverem relações de "paz" com o Brasil. Ela lembrou de sua luta durante a ditadura para falar da linha de atuação de seu governo na área de direitos humanos.
"Eu tenho posição bastante intransigente ao que se refere aos direitos humanos e ela se reflete no plano da diplomacia como uma posição clara, uma manifestação que conduza à melhoria dos direitos humanos, [que] não [seja] necessariamente [uma posição] estrondosa", disse.
Colaboraram SHEILA D'AMORIM e JOHANNA NUBLAT, de Brasília
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