São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2010 |
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JANIO DE FREITAS Dívidas de informação
A entrevista conjunta de Dilma Rousseff e Lula valeu pelo que disseram por iniciativa própria, mas sobretudo foi útil pelo que negaram do que outros disseram e escreveram nos últimos dias. Entre políticos e jornalistas há muitos centroavantes desses que chutam qualquer coisa. O pessoal da retaguarda, nas redações, em geral não dispõe de informação recente para defender-se dos chutes, ficando entregue só à própria acuidade, quando funciona. O atual e a futura presidentes puseram alguma ordem nas coisas. Não há cogitação de pacote disso ou daquilo, não existiram tais indicações nem tal conversa, e assim em diante. E deixaram o que foi ou é notícia de verdade. Agirem assim dia a dia, em pessoa ou, se impossível, por assessor acreditado, seria um exercício de respeito para com toda a opinião pública, opositora ou governista, sempre passível de formar conceitos a partir de bases ruins. A prestação diária de informações diretas, praticada em países da Europa e nos Estados Unidos, força o jornalismo a aprimorar-se na coleta de dados e no padrão de veracidade. Efeito muito conveniente no Brasil, e não só ao jornalismo: políticos habituados a usar repórteres e comentaristas ficam também restringidos em seus jogos e intrigas. Ou seja, é todo um processo de educação política, no qual os governantes mesmos precisam enquadrar-se, porque sujeitos ao confronto constante entre o que afirmem e o que se confirme ou não. A prestação permanente e atualizada de informações oficiais não é ato burocrático, é ato presidencial, ou de governo, devido à população. DITO E FEITO Esquisita a tese de Fernando Henrique Cardoso e Sérgio Guerra, presidente do PSDB, no sentido de que o partido precisa ter candidato à Presidência dois anos antes da eleição. As demais forças políticas não teriam motivo para tamanha antecipação, logo, o prazo dilatado não asseguraria vantagens à candidatura para as articulações interpartidárias. E o trabalho público de uma nota só por tanto tempo seria, convenhamos, impor ao eleitorado uma indigestão ainda maior que a provocada por Lula/Dilma. Essa parte das críticas menos ou mais veladas de Fernando Henrique a José Serra complementa-se, na entrevista que deu a Maria Cristina Frias e Vinicius Mota (Folha, 2.nov.10), com a opinião de que o PSDB "não pode ficar enrolando até o final para saber" quem é seu candidato. É o caso de lembrar que Serra enrolou até o limite seguindo um precedente em 1993/94. A proposta de André Lara para um plano contra a inflação condicionava-se à concordância de Fernando Henrique, então na Fazenda do governo Itamar Franco, com a conclusão de tudo até novembro daquele 1993. André cumpriu o prazo com folga. Mas, enquanto Itamar cobrava, ansioso, o plano prometido, Fernando Henrique dizia a André e outros que era preciso esperar enquanto convencia Itamar a concordar com a empreitada. Assim "enrolou" por cinco meses e meio, até decidir-se, já no limite, a formalizar sua candidatura a presidente. Nada como um dia antes do outro. Texto Anterior: Brasil acusa EUA e China de fazer 'guerra cambial' Próximo Texto: Análise: Eleita fala grosso, mas ensaia inflexão externa Índice | Comunicar Erros |
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