São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2010

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Revelações sobre escândalo da Receita Federal vêm a conta-gotas

Há dúvida se existe elo entre servidoras e "grupo de inteligência"

DE SÃO PAULO

As investigações sobre a violação do sigilo fiscal de Veronica Serra e de outras quatro pessoas associadas ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra, produziram revelações a conta-gotas nos últimos dias, mas ainda estão longe de esclarecer as principais dúvidas do caso.
O que se sabe até agora é que duas analistas da Receita Federal usaram seus computadores para acessar as declarações de Imposto de Renda da filha de Serra e de mais quatro tucanos entre setembro e outubro do ano passado, sem ter nenhuma razão profissional para fazer isso.
Mas ainda não se sabe quem encomendou o serviço nem se existe alguma ligação entre essas analistas e a equipe que um colaborador da candidata do PT, Dilma Rousseff, formou logo no início da corrida presidencial com o objetivo de investigar o campo adversário.
A história veio à tona no fim de maio, quando a imprensa noticiou a movimentação do jornalista Luiz Lanzetta, que ajudara a montar o primeiro comitê de Dilma em Brasília e fora contratado pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, amigo da candidata petista.

EQUIPE ESPECIAL
No dia 20 de abril, Lanzetta reuniu-se em Brasília com o jornalista Amaury Ribeiro Júnior e o delegado federal aposentado Onézimo Sousa para discutir a formação de uma equipe especial de investigações. O encontro foi revelado pela revista "Veja".
Lanzetta diz que seu objetivo era monitorar os funcionários do comitê petista para evitar vazamentos. Mas Onézimo declarou em entrevistas e em depoimento ao Congresso que sua missão seria investigar Serra em busca de informações embaraçosas.
Ribeiro é amigo de Lanzetta e desde o ano passado trabalha num livro sobre as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Lanzetta fez circular na internet parte do conteúdo do livro e afastou-se da campanha de Dilma.

DOSSIÊ
Em junho, a Folha examinou três conjuntos de papéis que circularam na campanha petista com dados de Veronica, do empresário Gregório Marin Preciado, casado com uma prima de Serra, e do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, que ajudou a arrecadar fundos para Serra nas eleições de 1994.
O dossiê também tinha cópias das declarações de Imposto de Renda do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, obtidas ilegalmente, e documentos sobre três depósitos recentes feitos em sua conta bancária.
A revelação obrigou a Receita Federal a abrir a investigação interna que está atualmente em curso.
A Corregedoria da Receita espera concluí-la no fim de outubro, bem depois do primeiro turno da eleição presidencial, marcado para dia 3.
A Receita já identificou as analistas que copiaram as declarações de Veronica e Eduardo Jorge. Lúcia Milan, que trabalha numa agência em Santo André, acessou as informações da filha de Serra. Adeildda Ferreira, de Mauá, imprimiu as declarações de Eduardo Jorge.
As investigações indicaram que as analistas de Mauá também violaram o sigilo fiscal do ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, que é do PSDB, e de dezenas de pessoas sem ligações políticas.
Lúcia acessou os dados de Veronica a pedido do contador Antônio Carlos Atella Ferreira e aceitou uma procuração forjada grosseiramente como prova de que ele representava a filha de Serra. Atella foi filiado ao PT no passado e se recusa a revelar para quem estava trabalhando.


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