|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para tucanos "originais", PSDB deve ser refundado
Fundadores concordam que partido perdeu a essência social-democrata
Filiados mais antigos elogiam José Serra e defendem mudança independentemente do resultado desta eleição
BRENO COSTA
DE SÃO PAULO
O PSDB terá que ser reformulado, independentemente do resultado das eleições.
Essa é a opinião consensual
de fundadores tucanos ouvidos pela Folha e que seguem
filiados ao partido 22 anos
depois de seu nascimento.
Ao mesmo tempo em que
elogiam José Serra como candidato à Presidência, os ouvidos concordam que o partido
perdeu a essência, curtida na
social-democracia europeia.
Hoje, dos 109 fundadores,
apenas Fernando Henrique
Cardoso e Pimenta da Veiga,
além de Serra, ainda compõem o conselho político nacional do partido.
Existe consenso entre os
entrevistados de que a perspectiva de ver seu principal
antagonista no cenário político, o PT, chegar a pelo menos 12 anos seguidos no poder é fruto de erros cometidos
pelos próprios tucanos.
Mesmo a conquista da Presidência, considerada prematura, com apenas seis
anos de fundação, entra na
lista de fatores que contribuíram para uma desconfiguração da unidade do partido.
"A experiência de governo
contribuiu para agregar muitos novos filiados que já não
partilhavam tanto daquela
unidade doutrinária e ideológica que embasou a fundação", diz o ex-chefe de gabinete de FHC, José Lucena
Dantas, hoje assessor de Tasso Jereissati (PSDB-CE).
O deputado estadual Carlos Mosconi (PSDB-MG) vê
um "envaidecimento" do tucanato ao chegar no poder.
"O partido não se preocupou em crescer com seus
princípios. Ficou mais aliancista", diz Mosconi, ex-presidente do partido e quatro vezes deputado federal.
Nesse sentido, o PSDB
também acabou perdendo,
nas palavras de João Gilberto
Lucas Coelho, ex-vice-governador do Rio Grande do Sul e
por três vezes deputado federal, o "debate ideológico"
com o PT.
"O PSDB foi apresentado
como símbolo da direita brasileira pelo PT e não conseguiu vencer isso", afirma.
O fator popularidade de
Lula entra, em parte, na conta de uma oposição feita de
forma equivocada, em que
êxitos da era FHC foram escondidos. "Nós somos ruins
de oposição. A verdade é essa", afirma Mosconi.
Na avaliação de Euclides
Scalco, ex-secretário-geral
da Presidência e um dos expoentes da fundação tucana,
em 1988, outro efeito até hoje
sentido pelos oito anos de
poder foi a ausência de uma
militância forte nos Estados.
"Ganhe ou perca, o partido
vai ter que se reformular,
com base em novas lideranças", afirma Scalco.
O ex-presidente da Assembleia Legislativa de SP Luiz
Benedicto Máximo cita também a necessidade de definição de "diretrizes claras".
"Se não se refundar, vai ficar
no marasmo, apenas com lideranças regionais", afirma.
Um obstáculo para esse
movimento de "refundação"
é outro defeito atual do partido, segundo os tucanos: falta
de um debate interno mais
aberto. "Não somos muito
afeitos a conversar internamente", diz Mosconi.
Texto Anterior: Crescimento desordenado desafia região Próximo Texto: Análise: Sob "guru" indiano, site de Serra aposta naquilo que o internauta mais abomina Índice
|