São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2010 |
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ENTREVISTA CELSO ROMA PSDB deve resgatar o legado positivo do governo de FHC Cientista político afirma que o futuro da legenda como grande partido não depende do resultado das eleições deste ano e sustenta que Serra confunde o eleitorado
UIRÁ MACHADO Folha - Qual o futuro do PSDB no caso de uma derrota de José Serra na disputa pela Presidência da República? Celso Roma - Discordo das análises que vislumbram o fim do PSDB. Se o partido fizer os governadores de São Paulo e Minas Gerais, terá duas vitrines. Se fracassar, perderá visibilidade por algum tempo. Mas o partido não desaparecerá de uma hora para a outra nem deixará de ter importância nacional. Por quê? Por um lado, uma parte significativa do eleitorado vota nos tucanos por opção. Por outro, não há alternativa efetiva à direita do PT, e o PSDB ocupa esse lugar. Os dois partidos concentram desde 1994 perto de 80% do eleitorado e nunca houve uma terceira via que tivesse força para mudar essa situação. PT e PSDB são os centros ao redor dos quais orbitam governo e oposição. Além disso, em tese, o partido conta com Aécio Neves como forte pré-candidato para a sucessão de 2014. A ironia é que o PT pode dar lições sobre como superar sucessivas derrotas na eleição presidencial e estar pronto para vencer quando a oportunidade surgir. Como você avalia os comerciais de Serra que procuram associá-lo a Lula? O PSDB não aprendeu com os erros do passado. Serra rifou o programa do partido e continua enviando mensagens incoerentes para o eleitor. Em 2002, ele confundiu o eleitorado ao propagar o slogan "continuidade sem continuísmo". Em 2010, ele se atrapalha ao criticar a gestão de Lula e, ao mesmo tempo, aparecer ao lado do adversário na propaganda eleitoral. O que deveria ser feito de forma diferente? O PSDB deveria recuperar a posse de suas bandeiras. Responsabilidade fiscal, descentralização dos serviços públicos, combate ao patrimonialismo, estabilidade... Mais do que isso, o partido precisa convencer os eleitores de que o avanço do país é resultado, em parte, de esforços iniciados na administração Fernando Henrique. Com o tempo, os eleitores poderiam formar uma opinião positiva sobre o governo FHC, em vez de terem como referência só os aspectos negativos divulgados pelo PT. A escolha de Indio da Costa (DEM) como vice foi um erro? A escolha teve razões pragmáticas e programáticas. Serra somou forças e teve acesso ao espaço reservado ao DEM no horário eleitoral. Com menos tempo de exposição, teria chances nulas. Mas o fato é que a aliança entre PSDB e DEM está baseada em afinidade de ideias. Tucanos e democratas marcam a mesma posição em muitos assuntos de política doméstica e externa. No Congresso, desde o final do governo Itamar Franco até hoje, as bancadas do PSDB e do DEM votam juntas na maioria das vezes. Aécio Neves, Geraldo Alckmin e Beto Richa despontam como o futuro do PSDB? A derrota na eleição pode encerrar um capítulo na história do PSDB. A cúpula do partido atropelou as prévias, desprezou a opinião da base e empurrou a candidatura Serra. A fatura será cobrada. Pode haver mudança na correlação de forças no interior do partido, com o fortalecimento do diretório de Minas Gerais, sob a liderança de Aécio. O núcleo paulista tende a perder influência sobre os rumos do partido. E Alckmin? À revelia da liderança do PSDB, Alckmin se impôs como candidato a presidente em 2006. Perdeu a eleição e caiu no ostracismo. O mundo da política dá voltas. Se perder a eleição, o que é altamente provável, Serra pode depender de um favor de Alckmin para retornar à vida pública e renascer para a disputa da Prefeitura de São Paulo, em 2012. O PSDB, na oposição, viu sua bancada de deputados diminuir. O partido não sabe viver como oposição? É necessário relativizar isso. Em que pese a perda de representatividade no Congresso, é o segundo partido que mais elegeu governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores. Em 2006, derrotado na eleição para presidente, o partido fez seis governadores, sendo três dos cinco maiores colégios. O PSDB sabe sobreviver como oposição, fora do governo federal. Texto Anterior: Análise: Sob "guru" indiano, site de Serra aposta naquilo que o internauta mais abomina Próximo Texto: Frases Índice |
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