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Marina teve voto religioso e de classe média
Lideranças católicas e evangélicas fizeram pregação contra Dilma por causa do Plano de Direitos Humanos
Campanha provocou a
transferência de votos
de Dilma para Marina
em áreas carentes da
Baixada Fluminense
PLÍNIO FRAGA
DO RIO
Voto conservador ligado a
valores morais e religiosos e
bom desempenho entre as
classes médias e entre eleitores de periferias de grandes
centros urbanos impulsionaram a candidatura de Marina
Silva (PV) no primeiro turno
da eleição presidencial.
Nas capitais, Marina venceu em Belo Horizonte, Porto
Alegre e Brasília e ficou em
segundo no Rio, em Salvador, Recife, Fortaleza, Florianópolis, Manaus, São Luís,
João Pessoa, Teresina, Porto
Velho, Boa Vista e Palmas.
No total nacional, a candidata do PV obteve o 3º lugar
com 19,33% votos, atrás da
petista Dilma Rousseff
(46,91%) e do tucano José
Serra (32,61%).
Tendo com pano de fundo
críticas ao Plano Nacional de
Direitos Humanos (apontado
como antirreligioso e pró-aborto) lideranças católicas e
evangélicas comandaram
pregação do voto anti-Dilma
na internet e em homilias,
cultos e ações sociais das
igrejas em várias regiões metropolitanas, principalmente
em comunidades carentes.
Em áreas em que foram detectados movimentos como
esses, Marina foi beneficiada
com votações acima da sua
média nacional.
"É possível que nessa conjuntura, quando Dilma foi
fustigada no plano dos valores morais, o fato de ser evangélica tenha canalizado para
Marina uma parcela de votos
mais conservadores", afirma
o sociólogo Antônio Lavareda, que trabalhou para a
campanha do Partido Verde.
Em favelas da zona oeste
do Rio, moradores relataram
que grupos católicos concentraram suas críticas em Dilma, apontada como defensora do aborto. Em zona eleitoral próxima da favela de Cidade de Deus, na zona oeste,
Dilma obteve 44,20%, Marina 32,58% e Serra 20,32%
-um patamar mais baixo para a petista e mais alto para a
candidata verde em se tratando de áreas carentes.
Na Baixada Fluminense,
área com 13 municípios da
região metropolitana do Rio,
Dilma teve 45% dos votos,
próximo de sua média nacional, mas Marina atingiu 29%,
dez pontos percentuais acima de sua média. Nessa região proliferaram ondas de
boatos compartilhadas por
meio da internet, alimentando o voto anti-Dilma.
A ligação do vice da candidata petista, Michel Temer,
com a maçonaria foi apontada em cultos evangélicos como comprovação de que o
parlamentar paulista tem
vínculos com o satanismo.
Dilma teve na cidade do
Rio 43,38% dos votos válidos, mas em áreas de votação
próximas a favelas com
obras do PAC chegou a
55,67%, como em Ramos, onde ficam favelas do Complexo do Alemão, com Marina
obtendo 26,09% e o tucano
José Serra, 15,5%.
Na zona sul do Rio, que
concentra as faixas de maior
renda da cidade, Serra obteve 31,6% dos votos, Marina,
28,8% e Dilma ficou em terceiro com 28,6% -exemplificando a capacidade de penetração do voto verde nos setores de classe média e alta.
Marina teve 12% dos votos
em Mato Grosso, mas em
Cuiabá atingiu 21,6%. Na capital mato-grossense tem origem uma liderança católica
carismática que, na TV e na
internet, acusa a petista de
ser adepta de uma "cultura
marxista a favor do aborto e
da união gay".
Um vídeo que obteve mais
de 3 milhões de acessos na
internet mostra um pastor
evangélico no Paraná alertando para o perigo que as
eleições presidenciais referendassem o aborto com
uma vitória petista.
Nos cultos, o pastor exibiu
imagens de cirurgias abortivas e de índios enterrando
crianças deformadas supostamente vivas, seguidos de
declarações de que o Plano
Nacional de Direitos Humanos banalizaria essas ações.
Em Curitiba, Marina teve
26,75% dos votos, quase empatando com Dilma, com
26,82%. Em todo o Estado, a
petista obteve 39% dos votos
contra 16% da verde.
Candidato derrotado ao
Senado, Cesar Maia (DEM),
apoiador de Serra, afirmou
que acompanhou o crescimento de Marina entre os
evangélicos que visitou. Diz
que o voto ambientalista e
ideológico deu a ela 10% dos
votos em toda a campanha,
mas que sua arrancada final
foi obra de valores religiosos.
"Serra tem de entender
que foi o voto conservador,
de valores cristãos, que impulsionou Marina", diz Maia.
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