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ANÁLISE
Índice é útil, mas se baseia em simplificações arbitrárias
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
Índices compósitos a
exemplo do IDH funcionam
como uma droga, capaz de
viciar economistas, jornalistas e burocratas. São mesmo
tentadores: ao traduzir num
único número diferentes aspectos do que quer que se
pretenda avaliar, eles permitem comparar os elementos,
estabelecer rankings e acompanhar a evolução de cada
unidade ao longo do tempo.
Para além do uso recreativo, tais índices podem ser
uma ferramenta útil na hora
de definir políticas públicas e
decidir investimentos. Não
se pode esquecer, porém, de
que eles exprimem modelos,
que encerram grande dose de
arbitrariedade e são necessariamente uma simplificação
grosseira da realidade.
A moda dos índices compósitos começou nos anos
90, depois que, a pedido da
ONU, um grupo de economistas, entre os quais o indiano Amartya Sen, elaborou
o IDH. A ideia era reduzir o
peso excessivo que se dava à
economia -o principal indicador usado era o PIB "per
capita"- e incluir também
outras dimensões. Assim, o
IDH leva em conta, além do
PIB, a saúde e a educação.
De lá para cá, foi uma verdadeira febre. Surgiram índices para medir democracia,
sustentabilidade, "felicidade
nacional bruta" e até qualidade de morte. Só o relatório
do IDH deste ano agrega
mais três indicadores (IDH-D, desigualdade de gênero e
pobreza multidimensional).
O problema com essas estatísticas compósitas é que
elas são, por natureza, muito
vulneráveis. Para cada item
que incluem, deixam de fora
um número muito maior de
variáveis que poderiam ser
consideradas uma medida
de desenvolvimento. O IDH,
por exemplo, é censurado
por não trazer nenhum dado
da dimensão ambiental.
Mesmo os tópicos que
constam da fórmula podem
ser contestados. Para representar a saúde, o IDH utiliza a
expectativa de vida ao nascer. Não há dúvida de que esse indicador reflete as condições sanitárias de um país,
mas ele embute também características geográficas
(propensão a enchentes, terremotos), sociais (violência)
e até mesmo genéticas.
Tal gênero de dificuldade
parece ser uma limitação do
próprio método. Como o economista Bryan Caplan jocosamente escreveu sobre o
IDH: "Isso significa que um
país com imortais e PIB infinito teria nota de 0,666 (menor que a do Equador e do
Turcomenistão), se sua população fosse analfabeta e
não frequentasse a escola".
Países escandinavos vêm
sempre no topo, conclui o autor, "porque o IDH é basicamente uma medida de quão
escandinavos são os países".
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