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Códigos do poder
Em plena era digital, 187 taquígrafos se dedicam a tentar entender e a registrar de próprio punho tudo aquilo que os deputados federais dizem
MARIA CLARA CABRAL
DE BRASÍLIA
Em meio à usual cacofonia, duplas de taquígrafos se
revezam com discrição no
plenário da Câmara. Chegam, sentam-se por poucos
minutos, rabiscam códigos
indecifráveis em seus cadernos e saem.
"Muita gente não sabe
quem nós somos. Tem deputado que chega perto e pergunta se é para votar "sim" ou
"não". Já pegaram até óculos
nossos emprestados", brinca
Graciete Pedreira, taquígrafa
há 15 anos na Casa.
Ela integra o grupo de 187
profissionais no Congresso
Nacional que diariamente se
dedica a registrar tudo o que
é dito nos plenários e em algumas comissões.
Em plena era digital, o serviço ainda é feito com os tradicionais bloquinho e caneta, num ritmo que pode chegar a 120 palavras por minuto. As anotações são rapidamente checadas, às vezes
com ajuda do áudio, e veiculadas na internet.
Segundo explica José Oliveira Anunciação, diretor da
taquigrafia da Câmara, o registro escrito das sessões é
previsto no regimento da Casa. Ainda não há, diz ele, um
sistema aperfeiçoado que
permita registrar de forma escrita o áudio.
A regra é que tudo o que é
dito no plenário deve ser registrado, mas os congressistas têm o poder de retificar
suas falas. Cabe à Secretaria-Geral da Mesa retirar do registro o que for considerado
uma ofensa, como palavrões.
O regimento diz que ofensas contra autoridades, como
"mentiroso" ou "ladrão",
não podem ser publicadas,
explica Anunciação.
Para conseguir acompanhar o (às vezes) intenso trabalho do plenário, os taquígrafos seguem um método de
trabalho preexistente, que leva em conta fonemas.
Também fazem suas adaptações, encurtando ainda
mais o registro que fazem nos
cadernos. Além disso, usam
sinais entre si: uma batida
com a caneta na mesa significa que é hora de o colega assumir a transcrição.
Os taquígrafos que ocupam uma vaga no Congresso
Nacional devem possuir conhecimento anterior da profissão. Mesmo assim, ao chegar, passam por uma preparação para se adaptarem ao ritmo das Casas.
No final da carreira, juntando as gratificações, chegam a ganhar até R$ 20 mil.
Para Denise Baere, diretora do serviço de taquigrafia
do Senado, a função pode ser
desgastante, por envolver
agilidade, precisão e bom conhecimento da língua.
"O então senador Jarbas
Passarinho falava que era o
terror dos taquígrafos. Ele
usava alguns termos esdrúxulos, tínhamos que olhar no
dicionário", relembra.
O secretário-geral da Câmara, Sérgio Sampaio, reconhece a necessidade de modernizar o registro das sessões, mas assegura que a
profissão não vai desaparecer da Esplanada.
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