São Paulo, domingo, 06 de março de 2011

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Códigos do poder

Em plena era digital, 187 taquígrafos se dedicam a tentar entender e a registrar de próprio punho tudo aquilo que os deputados federais dizem

MARIA CLARA CABRAL

DE BRASÍLIA

Em meio à usual cacofonia, duplas de taquígrafos se revezam com discrição no plenário da Câmara. Chegam, sentam-se por poucos minutos, rabiscam códigos indecifráveis em seus cadernos e saem.
"Muita gente não sabe quem nós somos. Tem deputado que chega perto e pergunta se é para votar "sim" ou "não". Já pegaram até óculos nossos emprestados", brinca Graciete Pedreira, taquígrafa há 15 anos na Casa.
Ela integra o grupo de 187 profissionais no Congresso Nacional que diariamente se dedica a registrar tudo o que é dito nos plenários e em algumas comissões.
Em plena era digital, o serviço ainda é feito com os tradicionais bloquinho e caneta, num ritmo que pode chegar a 120 palavras por minuto. As anotações são rapidamente checadas, às vezes com ajuda do áudio, e veiculadas na internet.
Segundo explica José Oliveira Anunciação, diretor da taquigrafia da Câmara, o registro escrito das sessões é previsto no regimento da Casa. Ainda não há, diz ele, um sistema aperfeiçoado que permita registrar de forma escrita o áudio.
A regra é que tudo o que é dito no plenário deve ser registrado, mas os congressistas têm o poder de retificar suas falas. Cabe à Secretaria-Geral da Mesa retirar do registro o que for considerado uma ofensa, como palavrões.
O regimento diz que ofensas contra autoridades, como "mentiroso" ou "ladrão", não podem ser publicadas, explica Anunciação.
Para conseguir acompanhar o (às vezes) intenso trabalho do plenário, os taquígrafos seguem um método de trabalho preexistente, que leva em conta fonemas.
Também fazem suas adaptações, encurtando ainda mais o registro que fazem nos cadernos. Além disso, usam sinais entre si: uma batida com a caneta na mesa significa que é hora de o colega assumir a transcrição.
Os taquígrafos que ocupam uma vaga no Congresso Nacional devem possuir conhecimento anterior da profissão. Mesmo assim, ao chegar, passam por uma preparação para se adaptarem ao ritmo das Casas.
No final da carreira, juntando as gratificações, chegam a ganhar até R$ 20 mil.
Para Denise Baere, diretora do serviço de taquigrafia do Senado, a função pode ser desgastante, por envolver agilidade, precisão e bom conhecimento da língua.
"O então senador Jarbas Passarinho falava que era o terror dos taquígrafos. Ele usava alguns termos esdrúxulos, tínhamos que olhar no dicionário", relembra.
O secretário-geral da Câmara, Sérgio Sampaio, reconhece a necessidade de modernizar o registro das sessões, mas assegura que a profissão não vai desaparecer da Esplanada.


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