São Paulo, segunda-feira, 06 de junho de 2011

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ANÁLISE OS NEGÓCIOS DO MINISTRO

Caso Palocci torna governo mais dependente do PMDB

Partido colhe dividendos da crise e alerta Dilma que "não se ganha no tranco"


MEDIANTE AS COMPENSAÇÕES DE PRAXE, O PMDB SE DISPÕE ATÉ A PROTEGER DILMA DA INFIDELIDADE DE PETISTAS

JOSIAS DE SOUZA
DE BRASÍLIA

A crise que rói o prestígio de Antonio Palocci produziu um deslocamento do eixo político do governo Dilma.
Depreciado na composição do ministério e submetido a um conta-gotas no rateio do segundo escalão, o PMDB ganha proeminência.
Mais dependente do partido do que gostaria, Dilma viu-se compelida a mandar desengavetar pedidos de nomeação do PMDB. Transferiu de Palocci para o ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais) a triagem de nomes.
Uma semana após mandar Palocci ameaçar o vice-presidente Michel Temer com a demissão de ministros peemedebistas, Dilma se reaproximou dele.
Disse a interlocutores que planeja valer-se da experiência de Temer, ex-deputado por cinco mandatos, três vezes presidente da Câmara.
Na sexta-feira, dois senadores governistas testemunharam uma cena que dá ideia dos novos ares. Estavam na sala de um auxiliar de Dilma. Soou o telefone.
Era um petista informando que a Executiva do PT não apoiaria Palocci. "Vocês estão empurrando o governo para o colo do PMDB", reagiu o operador de Dilma.
No mesmo dia, com seu peculiar pragmatismo, o PMDB apressou-se em franquear o colo a Palocci. Líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN) disse que não há hipótese de um de seus 79 liderados assinar o requerimento de CPI.
"Se estão pensando que damos apoio a Palocci por conta de cargos, digo: o governo pode congelar as legítimas pretensões que o partido ainda pode ter". E acrescentou: "Essa não é a hora de exigir, mas de oferecer".
Renan Calheiros (AL), líder do PMDB no Senado, ecoou o gesto: "O PMDB não vai participar de nenhuma conspiração para fragilizar o ministro Palocci nem para expor o governo Dilma".
Nas entrelinhas, a mensagem: mediante as compensações de praxe, o PMDB se dispõe até a proteger Dilma da infidelidade do PT.

CONSTRANGIMENTOS
Nos primeiros meses, como que decidida a diferenciar-se de Lula, Dilma submetera o PMDB a constrangimentos. Entregou à legenda menos ministérios do que os requeridos. A pasta da Integração Nacional foi para o PSB. A da Saúde, para o PT.
Iniciado o governo, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) trocou ofensas com petistas. Brigavam por cargos de Furnas, de onde Cunha devia ser desalojado, por ordem de Dilma. Temer teve de conter o temperamento mercurial do deputado, seu amigo.
Na semana passada, Cunha pegava em lanças por Palocci no plenário.
Há um PMDB diferente na praça. Na era tucana, o partido vivia em guerrilha interna. Sob Lula, dividiu-se em dois: o do Senado e o da Câmara. Com Dilma, exibe uma coesão que parecia inatingível. "Essa unidade é a nossa força, impõe respeito", jacta-se Henrique Eduardo Alves.
A pujança revelou-se em duas votações na Câmara. Na do salário mínimo de R$ 545, a bancada do PMDB deu 100% de seus votos ao governo. Na do Código Florestal, impôs a Dilma sua primeira grande derrota legislativa.
A presidente esboçou o pior tipo de reação. Dirigiu a Temer uma ameaça que, descumprida, só a fragilizou.
"O PMDB não é mais aquele", proclama Henrique Eduardo Alves. "Espero que todos tenham entendido. Não se ganha no tranco."
Na montagem do governo, o PMDB inaugurou uma tática que um expoente do grupo de Temer batizara de "política do cá te espero".
Para desassossego de Dilma, a revelação de que Palocci multiplicou seu patrimônio por 20 encurtou a espera do PMDB. Ainda que contorne a crise, a presidente se deu conta de que terá de lidar com o partido do modo convencional.
Henrique Eduardo Alves realça outra diferença: "O Michel Temer não foi nomeado. Ele foi eleito. Não somos aliados do governo. Somos governo".
Não é pouco, informa a história republicana. Desde 1889, 7 dos 40 presidentes brasileiros eram vices. Chegaram lá por renúncia, morte ou impeachment do titular.


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