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ANÁLISE
Em ritmo frenético, quatro candidatos tentavam explicar tudo em 2 minutos
DILMA E MARINA VACILARAM BEM MAIS VEZES DO QUE SERRA E PLÍNIO, MAS NINGUÉM FOI AO CHÃO
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MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Numa espécie de autoespetáculo, a Band começou
com uma orquestra ao vivo,
tocando sua vinheta. Mas o
conjunto clássico era bem
modesto, e o quarteto dos
candidatos tratou logo de se
adaptar a um ritmo frenético.
Como dizer algo consistente sobre educação, saúde ou
segurança em dois minutos?
E como apontar qual desses
temas é o mais importante?
Os candidatos falaram de tudo, ou pelo menos de tudo o
que cabia no tempo, quando
não se esqueciam do que
lhes tinha sido perguntado.
Acredita-se que a atenção
do espectador só se fixa por
um minuto e meio de cada
vez; daí a picotagem do tempo na TV. Mas um autor francês, Christian Morel, lembra
que nos "reality shows" passam-se horas sem que nada
aconteça. Até que seria uma
boa ideia: em vez de debates
tensos e artificiais, em que temas se embolam até ninguém entender mais nada,
poderíamos internar Dilma,
Serra, Marina e Plínio numa
mansão, durante uns dias.
A internet transmitiria tudo em tempo real. Cada partido editaria, depois, as cenas
como bem quisesse. Seria
instrutivo, e os candidatos
não são de fazer baixaria.
Serra parecia o único a
acertar o passo com a própria
respiração, e esperou os momentos certos para atacar.
Dilma, nervosa, engasga
muito e fala complicado; perdeu tempo demais, levando
Plínio a aclarar, ou caricaturar, o que ela tentava dizer.
O candidato do PSOL não
correu tanto, até porque sua
mensagem era mais sumária
e radical. Marina também se
ressentiu da falta de prática:
enquanto a sintaxe se estendia, voz e corpo davam pulinhos, como querendo saltar
acima das pesquisas.
À medida que se polarizava entre Dilma e Serra, o debate entrou num embrulho
de siglas e detalhes, com insuficiente discussão política.
Parecia uma daquelas lutas
de sumô, ao mesmo tempo
rapidíssimas e pesadas, feitas de imobilidade e pressa,
que só se decidem quando
um dos participantes vacila e
perde o equilíbrio. Dilma e
Marina vacilaram bem mais
vezes do que Serra e Plínio;
mas ninguém se estatelou espetacularmente no chão.
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