São Paulo, sexta-feira, 07 de janeiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

DEPOIMENTO

Um beijo, Lily

DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA, DE PARIS

Lily era linda. Talvez a mulher mais linda que eu jamais conheci.
Seu charme era natural, e todos os que se aproximavam dela eram tocados por essa mágica que existe em raras mulheres -e ela era uma delas. Acredito totalmente na lenda de que dr. Roberto Marinho a conheceu, se apaixonou, e esperou 50 anos para poderem se casar.
Quando morreu seu primeiro marido, Horacio, a primeira pessoa que chegou ao velório, às 8h da manhã, foi dr. Roberto.
Além de muito inteligente e sempre bem-humorada, Lily nasceu para cuidar; cuidou de seu filho, Horacinho, com devoção, do filho adotivo, João Baptista, do primeiro marido, Horacio, e mais tarde do dr. Roberto, sempre com o mais fiel e integral amor.
Ela sofreu muito, como só sofrem as pessoas que amam muito, mas teve a recompensa de encontrar um segundo amor que a fez feliz durante muitos anos.
Às vezes, eu almoçava com ela no Cosme Velho, e quando dr. Roberto aparecia para se despedir e ir trabalhar, Lily sempre fazia uma pequena cena de ciúmes; ou porque a gravata era nova, ou porque ele usava água de colônia, o que poderia significar -bem, aquelas coisas que só mulheres ciumentas são capazes de imaginar.
Ele adorava.
Uma vez ela fez com que ele levantasse a perna da calça que vestia, desceu a meia e me fez passar a mão, para ver como era macia sua pele. Ele adorava mais ainda.
Apesar da dedicação total aos seus, Lily era profundamente amiga de seus amigos. Os que foram amigos de seu filho Horacinho sempre tiveram nela uma proteção total, durante toda a vida.
Ela não contava, mas se sabia dos quantos ela ajudou em momentos difíceis, sem jamais fazer qualquer tipo de cobrança -sentimental, pois material nunca, mas nunca mesmo.
Ela fazia isso de tal maneira, que nenhum deles (de nós) se sentia em dívida. Com ela, tudo era natural, normal.
De Lily, só tive coisas boas; acho que não só eu, mas todos os que tiveram a sorte de conhecê-la.
Uma vez, em Paris, fui convidada para uma grande festa, mas não tinha o que usar. Lily ligou para a Maison Chanel, de quem era grande cliente, disse que uma amiga tinha chegado de surpresa, e que precisava de um vestido de baile emprestado.
À tarde, no meu hotel, chegou uma caixa que mal passava pela porta do quarto, com o mais lindo vestido que jamais usei. Mais tarde veio ela, com um colar, brincos e anel de esmeraldas, e feliz, feliz de estar podendo me fazer feliz. Ela gostava de fazer os outros felizes.
Ah, Lily, quantas vezes você me deu felicidades, e amizade, e ficou no telefone comigo até 3, 4, 5h da manhã, nos meus grandes sufocos. Ela me entendia, pois tinha passado por alguns iguais.
Se existe um céu, Lily vai estar lá -e também Horacio e dr. Roberto. Espero que esse céu exista, mas eu não gostaria -ou gostaria?- de ver esse encontro.
Os dois foram apaixonados por ela, e ciumentos, e ela apaixonada pelos dois, um de cada vez, claro.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Presidente do STF mantém Battisti preso
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.