São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2010

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ANÁLISE DEBATE

Candidatos tentaram encontrar o tom certo

Marina soou grave demais, e Serra parecia um "cidadão comum"; Dilma não alcançou proximidade com o eleitor


PLÍNIO ALTERNOU O TOM PAUSADO COM RÁPIDAS DIRETIVAS; CRIOU O EFEITO DO "CANDIDATO DIFERENTE", FALOU SOZINHO


MARIA DO ROSÁRIO GREGOLIN
ESPECIAL PARA A FOLHA

A política midiatizada é um espetáculo para um público longínquo: é preciso encontrar, por meio da voz, da gestualidade, da maneira de olhar para a câmera, o tom que produzirá o convencimento do eleitor distante.
Marina Silva (PV) iniciou sua participação hesitante, voz trêmula, mas foi se inflamando no decorrer do debate. Sua fala rápida, inflexão forte, acompanhada por um rosto imóvel e sisudo. Seu discurso contundente acabou muito mais adequado ao palanque, ao corpo a corpo. Na tela soou grave, excessivo, sem a plasticidade exigida pelo meio televisivo.
Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) alternou tom de voz coloquial, fala pausada como quem dá conselhos, com rápidas diretivas como "Serra é hipocondríaco" e "aqui é tudo Poliana"... Gesticulação contida transmitindo serenidade, interrompida por bruscas movimentações do corpo, olho direto na câmera. Criou o efeito "candidato diferente". Falou sozinho.
José Serra (PSDB) pareceu o "cidadão comum", da fala coloquial e branda, das formas breves e didáticas, afável, dirigindo-se a todos pelos nomes, com intimidade e entonação pausada. Não se esqueceu de olhar para o eleitor diretamente, olho na câmera, sem entretanto parecer incisivo. A gestualidade marcou a fala, parecendo estar demasiadamente à vontade. Essa maneira de dirigir-se ao eleitor produziu o efeito de uma oposição moderada, sem grandes confrontos.
Dilma Rousseff (PT) carregou o peso da situação. No início muito pouco à vontade, sua fala foi rápida, entrecortada, hesitante. Extrapolou várias vezes o tempo. Não se entendeu com a câmera: olhava para os lados procurando o olho mágico. Sem gesticulação, seu rosto se manteve impassível. Com o tempo, melhorou a interlocução com o meio audiovisual, olhou para o tele-eleitor, mas seu discurso não foi fluente, não usou formas coloquiais e didáticas, não produziu o efeito de proximidade com o telespectador. Essa posição impediu que construísse a imagem de "mulher comum" e a levou a ocupar o lugar de "candidata a um lugar".

MARIA DO ROSÁRIO GREGOLIN, livre-docente pela Unesp, é autora de "Discurso e Mídia -A Cultura do Espetáculo"



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