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ANÁLISE DEBATE
Candidatos tentaram encontrar o tom certo
Marina soou grave demais, e Serra parecia um "cidadão comum"; Dilma não alcançou proximidade com o eleitor
PLÍNIO ALTERNOU O TOM PAUSADO COM RÁPIDAS DIRETIVAS; CRIOU O EFEITO
DO "CANDIDATO
DIFERENTE",
FALOU SOZINHO
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MARIA DO ROSÁRIO GREGOLIN
ESPECIAL PARA A FOLHA
A política midiatizada é
um espetáculo para um público longínquo: é preciso
encontrar, por meio da voz,
da gestualidade, da maneira
de olhar para a câmera, o tom
que produzirá o convencimento do eleitor distante.
Marina Silva (PV) iniciou
sua participação hesitante,
voz trêmula, mas foi se inflamando no decorrer do debate. Sua fala rápida, inflexão
forte, acompanhada por um
rosto imóvel e sisudo. Seu
discurso contundente acabou muito mais adequado ao
palanque, ao corpo a corpo.
Na tela soou grave, excessivo, sem a plasticidade exigida pelo meio televisivo.
Plínio de Arruda Sampaio
(PSOL) alternou tom de voz
coloquial, fala pausada como quem dá conselhos, com
rápidas diretivas como "Serra é hipocondríaco" e "aqui é
tudo Poliana"... Gesticulação
contida transmitindo serenidade, interrompida por bruscas movimentações do corpo, olho direto na câmera.
Criou o efeito "candidato diferente". Falou sozinho.
José Serra (PSDB) pareceu
o "cidadão comum", da fala
coloquial e branda, das formas breves e didáticas, afável, dirigindo-se a todos pelos nomes, com intimidade e
entonação pausada. Não se
esqueceu de olhar para o
eleitor diretamente, olho na
câmera, sem entretanto parecer incisivo. A gestualidade
marcou a fala, parecendo estar demasiadamente à vontade. Essa maneira de dirigir-se
ao eleitor produziu o efeito
de uma oposição moderada,
sem grandes confrontos.
Dilma Rousseff (PT) carregou o peso da situação. No
início muito pouco à vontade, sua fala foi rápida, entrecortada, hesitante. Extrapolou várias vezes o tempo. Não
se entendeu com a câmera:
olhava para os lados procurando o olho mágico. Sem
gesticulação, seu rosto se
manteve impassível. Com o
tempo, melhorou a interlocução com o meio audiovisual,
olhou para o tele-eleitor, mas
seu discurso não foi fluente,
não usou formas coloquiais e
didáticas, não produziu o
efeito de proximidade com o
telespectador. Essa posição
impediu que construísse a
imagem de "mulher comum"
e a levou a ocupar o lugar de
"candidata a um lugar".
MARIA DO ROSÁRIO GREGOLIN, livre-docente pela Unesp, é autora de "Discurso
e Mídia -A Cultura do Espetáculo"
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