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Brizolismo de resultado
Fundadora do PDT , candidata a presidente costurou aliança com o PT em 1998
e acabou trocando de legenda em 2000; na época, Leonel Brizola disse que Dilma era "uma grande oportunista"
em busca de cargos públicos
Luis Fernando-23.mar.1998/Agência RBS
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A então pedetista Dilma Rousseff conversa com o líder nacional do partido, Leonel Brizola, durante em almoço com integrantes da sigla em março de 1998
ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE
No evento em apoio à candidatura de Dilma Rousseff
(PT) à Presidência, há três semanas, o PDT gaúcho se esforçou para mostrar que as
rusgas da traumática saída
dela da legenda, em 2000,
eram página virada. Em um
auditório repleto de fotos de
Leonel Brizola, algumas com
Dilma, lideranças do partido
discursaram sobre as origens
trabalhistas da candidata.
Quando um deles afirmou
que Brizola, se vivo, estaria
naquele palco apoiando Dilma, uma voz da plateia gritou: "Se estivesse vivo, Brizola morria de novo".
Vinda de um pedetista inconformado ou de um agitador, a frase relembrou um
dos últimos embates de Brizola, morto em 2004.
Há dez anos, Dilma e outros três ocupantes do primeiro escalão do governo
Olívio Dutra (PT) decidiram
deixar o PDT, que, ao romper
com o PT, entregou os cargos. Brizola foi virulento.
Chamou os dissidentes de
"traidores". Disse que Dilma
era "uma grande oportunista" em busca de cargos.
FUNDADORA
Dilma e Brizola se conheceram no final dos anos 70. A
opção pelo PDT resultou do
interesse do então marido de
Dilma, Carlos Franklin Paixão Araújo, pelo trabalhismo. Durante sua prisão pela
ditadura militar, Araújo se
dedicou a estudar políticos
bons oradores e passou a admirar Brizola. Depois de flertar com o PT e com Lula,
Araújo e outras lideranças no
Estado optaram pelo PDT.
O casal chegou a ir a Lisboa para se encontrar com
Brizola, antes de ele voltar ao
Brasil, com a anistia.
Enquanto o ex-marido, advogado trabalhista, seguiu o
caminho das urnas, concorrendo a cargos públicos -foi
quatro vezes deputado estadual-, Dilma ocupou cargos
técnicos, de indicação política. "Ela parecia ter atuação
coadjuvante de Araújo, mas
era um dos melhores quadros técnicos e intelectuais",
afirma o presidente nacional
do PDT, Vieira da Cunha.
Nas discussões internas do
partido, tinha voz forte. Em
um debate sobre a suspensão
ou não de Pedro Ruas (hoje
no PSOL) por críticas públicas à gestão Collares, Dilma
bateu de frente com a primeira-dama, Neuza Canabarro.
Segundo Araújo, os debates na residência do casal,
que atraíam políticos de diversas matizes, tinham participação ativa de Dilma.
Ela atuou na coordenação
de campanhas, em especial
as de Araújo a deputado e à
prefeitura. Foi também responsável pela montagem dos
planos de governo de Alceu
Collares e Emilia Fernandes.
Em 1998, na campanha em
que Brizola foi candidato a
vice de Lula à Presidência,
Dilma defendeu uma aliança
com o PT no Estado. O PDT
gaúcho, que vivia às turras
com os petistas locais, preferiu a candidatura própria.
Emilia não foi para o segundo turno, e Dilma ajudou
a construir o apoio do partido
a Olívio Dutra, decisivo para
a vitória do petista ao governo. Acabou sendo indicada
para a Secretaria de Minas e
Energia, na cota do PDT.
Os dois partidos se desentenderam em 2000, por causa da disputa pela prefeitura.
Collares, candidato pedetista, foi um dos que mais criticaram os dissidentes. Hoje
chega a dizer que Dilma "fez
a coisa certa" ao permanecer
no governo petista: "Conosco [PDT] ela fez um curso de
alfabetização política".
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