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Dilma teórica
Em artigos escritos na década de 90, quando presidia fundação no RS, petista condenava política de juros altos e câmbio valorizado , dois pontos criticados no atual governo
PLÍNIO FRAGA
DO RIO
A obra teórica da economista Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência,
choca-se com a política econômica do governo Lula, da
qual ela foi um dos pilares.
Em setembro de 1997, ao final do governo FHC, o país
vivia um período de real valorizado e fragilidade nas
contas externas (gastava
mais do que recebia nas transações de bens e serviços
com o exterior) -duas das
críticas mais frequentes hoje
no final do governo Lula.
Dilma presidia a Fundação
de Estudos Econômicos do
RS e produziu uma dezena de
textos teóricos para a revista
deste centro gaúcho.
Sem ter apresentado dissertação de mestrado ou tese
de doutorado, esses artigos
são raros exemplos do pensamento econômico da petista. Em artigo de 30 de setembro de 1997, Dilma comentou
a sobrevalorização cambial e
a fragilidade externa.
Começava reclamando da
taxa básica de juros reais (então em 15,5% ao ano, descontada a inflação) e de que o governo tinha como política
mantê-los altos, como faz o
governo Lula -que mantém
juros básicos anuais em linha ascendente, hoje em
10,75% (5,6% reais ao ano).
O artigo aponta que reservas cambiais elevadas com
política de juros altos não asseguram garantias suficientes contra ataques especulativos -exatamente a argumentação do governo Lula
para negar risco de uma crise
cambial como a de 1999, que
provocou uma maxidesvalorização da moeda.
Nos últimos anos, com a
melhora da economia mundial, o Banco Central acumulou reservas internacionais
próximas de US$ 260 bilhões. No entanto, o país voltou a ter deficit nas transações com o exterior, equivalente hoje a 2,2% do Produto
Interno Bruto. Em 1997, o deficit atingiu 3,5% do PIB.
"O desfecho dos ataques
especulativos no sudeste
asiático mostra que nenhum
dos instrumentos tradicionais, da elevação de juros à
intervenção dos bancos centrais utilizando suas reservas
e outros controles cambiais
menos ortodoxos, é uma garantia integral contra um ataque especulativo, principalmente se houver razões de
fundamento por trás dele",
escreveu Dilma em 1997.
As reservas internacionais
estavam em US$ 63 bilhões,
recorde para a época.
"Comprovou-se (..) que a
política monetária caracterizada pelos juros positivos, a
existência de reservas elevadas e a presença de altos níveis de deficit externos tem
uma limitada capacidade de
ação diante dos volumosos
fluxos especulativos de capitais, principalmente na vigência de câmbio relativamente fixas e valorizadas",
diz a petista, no texto.
A diferença é que, àquela
época, o câmbio era controlado e, hoje, flutua livremente. Mas, como antes, juros altos atraem capitais voláteis,
de investidores que tomam
recursos com custo baixo no
exterior e aplicam no Brasil.
O movimento valoriza a moeda nacional e prejudica a balança comercial.
Quando questionada sobre a atual fragilidade externa brasileira, Dilma declarou
que o perfil da economia brasileira hoje é "mais saudável
e robusto", pois o mercado
interno está crescendo, e os
empresários, investindo.
"A situação externa brasileira não é, de forma alguma,
uma situação de pré-crise. A
balança de serviços no Brasil
mudou. Antes, era pagamento de juros e títulos de renda
de fixa. Hoje, é investimento
externo direto e aumento
também da aplicação em
Bolsa. O deficit tem outro
perfil em relação ao deficit do
passado", disse.
O economista e empresário Roberto Giannetti da Fonseca afirma que há semelhanças entre a situação de
1997 e a atual. Para ele, o deficit externo será a verdadeira "herança maldita" para o
próximo presidente.
"Caminha de forma insustentável. Por exemplo, nunca na história deste país houve mais carros importados do
que exportados. É uma drenagem de reserva que levará
a uma crise cambial em 2013,
2014", diz Gianneti.
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