São Paulo, terça-feira, 08 de novembro de 2011

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JANIO DE FREITAS

Perigo à vista


A insistência do Irã em fins pacíficos do projeto nuclear não tem valia para a parte de Israel que propõe o ataque


O dia de hoje ameaça ser mais uma das encruzilhadas que se põem entre a paz e a guerra, ou entre a barbárie e a evolução humana. Prometido para hoje, o relatório da Agência Internacional de Energia Atômica, da ONU, é esperado como afirmação de que o projeto nuclear do Irã está próximo da capacidade de produzir a arma atômica.
Se confirmada essa expectativa, difundida na própria ONU, a atmosfera de beligerância do Oriente Médio recebe o fortalecimento necessário para passar da tensão aos fatos militares, mencionados por importantes jornais de Israel, nos últimos dias, sem contestação.
Depois de palavras dúbias de Obama e de silêncio dos governantes europeus, em seguida às referências dos governantes israelenses a ataque militar ao Irã, no fim de semana vários deles acordaram para a gravidade da perspectiva. E saíram com advertências, ainda que sem crítica a Israel, sobre a impropriedade de uma crise explosiva no Oriente Médio, nas circunstâncias em que Europa e Estados Unidos debatem-se em vão contra suas respectivas situações.
Mas, cá entre nós, o desesperado momento vivido por americanos e europeus pode ser a razão mesma, percebida pelos belicistas israelenses, para decidir o confronto com o Irã sem interferências e possíveis objeções dos seus amigos, agora tão ocupados e aturdidos.
A renovada insistência do Irã na finalidade pacífica do seu projeto nuclear é de nenhuma valia para a parte do governo israelense que propõe o ataque imediato à usina iraniana, não importa o quanto sejam corretos ou mal estimados os novos riscos nucleares. A linha militarista israelense considera ser tempo de acabar com interrogações sobre o projeto iraniano. Embora as notícias de que os comandos militares e o Mossad, que é a CIA israelense, sejam contrários ao ataque, a evidência é de que mesmo o presidente Shimon Peres abandonou sua consagrada atitude de moderação e racionalidade, e voltou à linha dura de que foi um dos expoentes até a meia idade. Sinal eloquente das tendências de futuro próximo no Oriente Médio.
É fácil imaginar a atividade subterrânea que se desenvolve, a respeito de tudo o que pode ser iminente, entre os governos de diplomacia ativa na atualidade, Brasil incluído. A par das concepções postas em questão, um componente fundamental do problema: o Irã é o segundo maior produtor de petróleo e sua localização lhe permitiria criar dificuldades enormes ao abastecimento petrolífero, proveniente de outras fontes, para o Ocidente. Vamos viver o dia de hoje como um dia normal. Mas está longe disso.


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