São Paulo, quarta-feira, 08 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

WIKILEAKS OS PAPÉIS BRASILEIROS

Em 2002, Lula levou aos EUA discurso conciliador

Petista disse a diplomatas que políticos do país não eram "bando de ladrões"

Mercadante, Palocci e Dirceu fizeram críticas a grupos historicamente associados ao PT, como Farc e Foro de São Paulo


FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA

Antes de tomar posse em seu primeiro mandato, Luiz Inácio Lula da Silva manifestou a diplomatas norte-americanos o interesse em estreitar relações com os EUA.
Demonstrou empenho em mudar a percepção de que os governantes brasileiros seriam um "bando de ladrões irresponsáveis" e que o Brasil seria "uma outra Colômbia".
Lula teve uma longa conversa com a então embaixadora dos EUA em Brasília, Donna Hrinack, e com Otto Reich, secretário assistente do Departamento de Estado. Estava com três assessores: Antonio Palocci, José Dirceu e Aloizio Mercadante.
O relato do encontro feito pelos norte-americanos mostra um Lula disposto a estabelecer relações amigáveis com os EUA. Ele e seus assessores adotaram discurso bem mais moderado que o que usavam em público.
À época, havia dúvidas sobre como seria o trato diplomático entre os dois países. Na conversa, como relatada, o petista parece ter transmitido tranquilidade aos EUA.
Dirceu disse que "as Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia] precisam entender que, se cruzarem a fronteira e entrarem no território brasileiro, o governo Lula vai usar força militar e tratá-las como inimigas".
Hugo Chávez (Venezuela) e Fidel Castro (Cuba), líderes de países considerados adversários dos EUA, foram tratados pelos petistas com um certo distanciamento.
Essas informações fazem parte de um de seis telegramas produzidos por diplomatas dos EUA aos quais a Folha teve acesso.
Os documentos foram divulgados pela organização WikiLeaks (wikileaks.ch/).
"Ao se juntar aos esforços de Lula para manter-se longe de Castro e de Hugo Chávez, o líder do PT Aloizio Mercadante procurou minimizar a participação do partido no Foro de São Paulo", informa o telegrama de 2002.
O Foro de São Paulo é uma coalizão de partidos de esquerda latino-americanos.
Na conversa, Mercadante disse que o grupo era composto por esquerdistas "ultrapassados" que poderiam "aprender com o modelo democrático do PT e com a ênfase na economia".
Ao sair da reunião, Mercadante falou à imprensa. Disse que "os americanos sempre jogaram pesado, e agora o governo brasileiro vai jogar pesado como eles". Os norte-americanos registraram que ele foi mais duro em público do que em privado.
Todos os telegramas aos quais a Folha teve acesso mostram contatos de Lula com embaixadores dos EUA ou altos diplomatas desse país que passaram em algum momento por Brasília.
O tom geral é sempre de conciliação, com Lula enfatizando a necessidade de se encontrar com os presidentes norte-americanos George W. Bush e Barack Obama.
Num encontro no ano passado para se despedir de Clifford Sobel, que deixaria o cargo de embaixador em Brasília, o presidente Lula puxou o diplomata para conversa reservada, só com a tradutora presidencial.
Falou sobre seus contatos diretos com líderes mundiais e criticou a burocracia que cerca o poder. "Ele [Lula] deu uma clara demonstração da importância que confere a relações pessoais na condução de política internacional", registra o telegrama.
Em 2006, Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, recebeu diplomatas norte-americanos. Pediu compreensão para o caso de a "retórica" na eleição "ter parecido ocasionalmente crítica aos EUA" e disse que, no novo mandato, as relações com o país seriam "centrais".
O telegrama diz que Carvalho lhes deu seu telefone particular. "Ele nos encorajou a contatá-lo diretamente a qualquer hora."


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Análise: Tio Sam deu mais crédito aos petistas que alguns brasileiros
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.