São Paulo, sábado, 09 de abril de 2011 |
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Mantega nega usar dólar contra inflação Ministro da Fazenda admite benefícios da valorização do real, mas diz ter outras ferramentas para conter os preços Ex-membros do governo sugerem que BC deixe o dólar cair para aliviar a pressão de preços externos na inflação MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu ontem que deixar o câmbio flutuar sem qualquer intervenção seria bom para segurar a inflação, mas negou que essa seja a estratégia do governo. "É verdade que seria bom para a inflação, mas nós não fazemos essa política. A política antiinflacionária é aquela definida nas medidas do Banco Central e da Fazenda, que visam a reduzir o consumo e a demanda", afirmou. No dia anterior, ele havia anunciado o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 1,5% para 3% sobre empréstimos pessoais de um ano ou mais. As declarações de Mantega foram feitas durante um seminário promovido pela revista "Brasileiros", em São Paulo. E foram uma reação à defesa do ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, que sugeriu que o governo deixasse de interferir na cotação do dólar como forma de combater a alta de preços. Nos últimos 12 meses, a inflação já chega a 6,3%, perto do teto da meta estipulada para este ano, de 4,5% com tolerância de dois pontos percentuais para cima. "Deixando o câmbio flutuar, a cotação poderia ir a R$ 1,50 [ontem fechou em R$ 1,57], o que iria prejudicar parte do setor privado exportador. Mas isso teria outros efeitos colaterais positivos, como reduzir a pressão inflacionária e a necessidade de se empregar uma taxa de juros maior", disse Mailson. "O inimigo é a inflação e ela está se generalizando. Está na boca do povo, numa sociedade viciada em indexação, o que é muito grave", afirmou. Outro defensor do fim das intervenções no câmbio é o ex-diretor do BC Edmar Bacha. Ele refuta o argumento de que o câmbio valorizado seja ruim para as exportações e para a indústria. "Estamos abdicando de um instrumento de controle da inflação em nome de não sei bem o quê. A economia está em pleno emprego. O que interessa se está produzindo brinquedo ou se está produzindo álcool? Não acho que produzir brinquedo seja mais importante", afirmou. REAL VALORIZADO Na avaliação do professor da Unicamp Ricardo Carneiro, o governo vem optando por um real um pouco mais valorizado. Segundo ele, o governo está "calibrando" o valor do dólar. Ou seja, evita uma apreciação excessiva do real, mas também não toma medidas mais drásticas para fazer o dólar subir. "Com a inflação batendo no teto, o governo tem que ser tolerante com certa apreciação do real", defendeu. Mesmo crítico à entrada excessiva de capitais estrangeiros no país, o professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo também argumenta que o governo não pode provocar um aumento do dólar. "O governo não pode desvalorizar o câmbio agora. Se não, vai trazer para dentro o choque de commodities lá de fora", afirmou, referindo-se ao aumento das matérias-primas no exterior. Em entrevista à Folha por e-mail, o ex-presidente do BNDES e ex-diretor do BCl Luiz Carlos Mendonça de Barros foi categórico e disse que, no cenário atual, o uso do câmbio para combater a inflação é "grande tolice". Para o economista, o governo deve usar o controle dos gastos públicos, a taxa de juros e formas alternativas de frear o crédito. "O grosso do desequilíbrio de preços está nos segmentos pouco expostos ao comércio exterior, como serviços e preços indexados à inflação passada", disse. Colaborou MARIANA SCHREIBER, de São Paulo Texto Anterior: Foco do governo é o capital especulativo Próximo Texto: Frase Índice | Comunicar Erros |
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