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ANÁLISE
Método traz a realidade para dentro do gabinete do juiz
Cabe ao juiz escolher que instrumentos vão basear sua decisão
JOAQUIM FALCÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O problema, aparentemente, é muito simples. O
juiz deve decidir com base
apenas no que está incluído
no processo? Com base apenas no documento escrito
com firma reconhecida? Na
argumentação, nos fatos descritos e para as partes restritas nos autos? Ou o juiz pode
levar em consideração fatos
de que soube, informações
que coletou, cenas que presenciou fora dos autos?
O procurador Ramiro Rockenbach de Almeida, de Mato Grosso do Sul, tenta resolver este problema de maneira peculiar. Já que o juiz, na
maioria das vezes, não pode
sair do gabinete, ir às ruas,
falar com todos os envolvidos, não pode viajar para ver
a realidade dos fatos, por falta de tempo e, às vezes, de
condição, ele fez o inverso.
Trouxe a realidade para
dentro do gabinete do juiz
por meio de um filme que
busca retratar, além da letra
fria da lei, o conteúdo humano do conflito. Além dos pareceres formais, das provas
documentais, a imagem vivida e a palavra falada, o sonho desfeito. Já que Maomé
não vai à montanha, a montanha vem a Maomé.
Mas o que acontece quando a imagem do filme contraria os documentos? O perito
assina que as obras financiadas estavam prontas e acabadas. A imagem nega. As casas estão sem telhado. O modelo de piscicultura não permitiu produzir nem um só
lambari. O gado comprado
para dar leite era doente, não
produziu e morreu. Quem é o
responsável? Quem tem que
pagar os empréstimos? Ao
juiz para decidir.
Do ponto de vista formal,
são os lavradores que assinaram e são fiadores do empréstimo feito pelo BB. Assinaram o que não entendiam
sem as informações necessárias. Sucumbiram à burocracia e a intermediários. O processo-filme alega que não havia condições mínimas para
o livre exercício de contratar.
Mas contrataram. E agora?
Ao juiz para decidir.
O filme faz parte da petição. Maneira engenhosa de
trazê-lo legalmente para dentro dos autos. O filme é prova
e fundamentação. O juiz não
estará imune a ele. Basta ver
para ser por ele influenciado,
conscientemente ou não.
Haverá sempre juristas a
favor do documento assinado. Mas hoje audiências já
podem ser feitas por teleconferência. A Justiça pode ver
mais. Mas como conciliar documento e documentário
quando eles se opõem? Ao
juiz para decidir.
JOAQUIM FALCÃO é professor de direito
constitucional da FGV Direito-Rio.
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