São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2010

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ANÁLISE

É o social, companheiro!

MARCELO NERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nos últimos anos tem havido forte descolamento do crescimento da renda da Pnad, que pauta as pesquisas sociais brasileiras, e o PIB per capita, que é o principal indicador econômico.
Na última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), o problema se agravou. Senão vejamos: a magnitude do crescimento do período 2003-08 na ótica das contas nacionais, mesmo após as sucessivas revisões para cima, o PIB cresce 3,78% em termos per capita ao ano, velocidade menor que a da Pnad, de 5,26% por ano, também descontando o crescimento populacional e a inflação. Isso representa mais dois anos em cinco anos.
Agora a questão é o que puxará o que: o PIB puxará a Pnad para baixo, ou a Pnad puxará o PIB para cima. Se depender da Pnad 2009, nenhuma dessas alternativas. O PIB per capita cresce cerca de -1,5% em 2009 contra um crescimento, este positivo, de 2,04% da renda pnadiana.
O relatório recente de Amartaya Sen e Joseph Stiglitz constata fortes discrepâncias entre as pesquisas domiciliares e os PIBs mundo afora, sendo as taxas de crescimento do PIB em geral superiores. Na China e na Índia ocorreu o oposto do Brasil. O relatório argumenta pelo uso das pesquisas domiciliares.
Outra vantagem é olhar a distribuição dos frutos do crescimento. Neste aspecto a renda dos 40% mais pobres cresceu 3,15% no último ano contra 1,09 dos 10% mais ricos brasileiros dando sequência a uma queda inédita de desigualdade que percorreu todos os anos desta década que se encerra nesta Pnad.
Além de um crescimento maior da Pnad e reconhecido como pró-pobre, o crescimento se dá para o período 2003 a 2009 com taxas de crescimento da renda do trabalho em níveis equivalentes ao da renda de todas as fontes, o que confere alguma sustentabilidade ao processo e, mais do que isso, um caráter simbólico. Existem poucos símbolos de prosperidade do que a multiplicação das carteiras de trabalho.
Nesta semana lançaremos nova pesquisa sobre a nova classe média brasileira.


MARCELO NERI é chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas


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