São Paulo, domingo, 10 de abril de 2011

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Fora da meta, inflação pode exigir choque nos juros

Para economistas, risco de descontrole seria o uso de medidas duras no futuro

Um dos pais do Plano Real, Edmar Bacha alerta que a necessidade de ações mais drásticas derrubaria a economia

MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

A maior tolerância do Banco Central com os preços neste ano pode criar uma armadilha para o governo. Se a inflação continuar alta por muito tempo, será mais difícil e custoso fazê-la voltar ao chão, dizem economistas.
Isso obrigaria o BC a aumentar muito os juros para domar a inflação, o que provocaria uma forte contração da atividade econômica -certamente maior do que a que seria necessária hoje para conter a alta de preços.
"Eu não tenho dúvida de que, se a inflação sair do controle, o governo vai aplicar uma política de choque, porque sabe que, com inflação, não se reelege. Isso derruba a atividade econômica", afirma Edmar Bacha, um dos formuladores do Plano Real.
A meta do BC é terminar 2011 com inflação acumulada em 4,5%, mas há margem de tolerância que vai de 2,5% a 6,5%. Hoje, a taxa acumulada em um ano é de 6,30%.
O Brasil não é o único país com regime de metas que enfrenta dificuldades para controlar a inflação. Dos 26 países que seguem essa política, dez estão com a inflação acima da margem máxima, e cinco (incluindo Brasil) com a inflação acima do centro, mostra a consultoria LCA.
Apesar de a inflação no Brasil estar dentro da margem de tolerância, não significa que ela esteja baixa. Apenas três dos 26 países têm teto de meta maior que o nosso. Hoje, a inflação no Brasil é a quinta maior, considerando os 26 que adotam o sistema.
"Nossa meta é bastante folgada e mesmo assim estamos batendo no teto. É muito perigoso", afirma Bacha.
E o Brasil tem outra especificidade que torna o controle da inflação mais difícil do que em outros países. Bacha observa que, como a economia brasileira ainda é muito indexada, a manutenção da inflação em patamar elevado alimenta nova alta de preços.
Indexação é quando os preços são ajustados levando-se em conta a inflação passada. O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, estima que 40% dos preços são indexados no Brasil, como conta de luz e aluguel.
Para Vale, como o governo não está disposto a reduzir o ritmo de crescimento do país, a indexação provocará um alta gradual da inflação, que pode superar 7% ou mais.
Ele acredita que o ajuste da inflação, com prejuízos maiores para a economia, ficará para o próximo governo, em 2015: "Se no primeiro ano de mandato não querem sacrificar crescimento, por que farão depois, com Copa, Olimpíada, eleição?".

OPORTUNIDADE
O ex-presidente do BC Carlos Langoni também defende um ajuste neste ano. Ele diz que as condições agora são mais favoráveis, com a economia em desaceleração.
Já em 2012, destaca, haverá um "choque de salário mínimo", pois, pelas regras atuais, o piso nacional deve ter aumento entre 13% e 14%.
"Manter a inflação sob controle não é manter dentro do limite da meta, é manter próxima do centro", disse.


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