São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2011

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ANÁLISE INFLAÇÃO

Discurso mais duro do BC ajuda mercado a reduzir expectativa

Esforço na melhoria da comunicação pode ter reduzido projeção para o PIB, e consequentemente para a inflação

MELHORA RECENTE DA COORDENAÇÃO DE EXPECTATIVAS, EMBORA AINDA INCIPIENTE, MERECE SER COMEMORADA

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

É bastante alvissareira a notícia de que, depois de prolongada temporada de deterioração, na semana passada, as expectativas de inflação apuradas pelo Banco Central junto a dezenas de bancos, consultorias e instituições de pesquisa tiveram ligeira melhora.
É provável que o principal fator para a melhora seja o recuo das cotações das matérias-primas, tanto minerais como agrícolas, nas duas últimas semanas. Isso interrompe uma alta que se prolongava há quase um ano e meio -o rali de alta mais longo e mais pronunciado de que se tem notícia.
Ou seja, embora sigam bastante caras, as commodities, enfim, deram um refresco, aliviando um choque de custos fortíssimo.
É bastante incerto, contudo, o quanto o esforço recente do governo, e em especial do BC, para melhorar a sua comunicação com o mercado também pode ter contribuído para a redução da estimativa.
Mas é possível que o endurecimento do discurso anti-inflacionário tenha ajudado na "ligeira" revisão para baixo das projeções para o crescimento do PIB, e que esse tenha sido um ingrediente para os analistas projetarem uma inflação um pouco menos folgada.
Além do choque das commodities e da demanda interna ainda aquecida, outra razão para a deterioração recém-interrompida das expectativas está nas mudanças na política econômica iniciadas no fim de 2010.
No campo da política monetária, a mudança maior foi o recurso, recorrente, a elevações de depósitos compulsórios e exigências de reserva de capital, bem como medidas ditas macroprudenciais.
Essas medidas limitam o volume de recursos que os bancos têm à disposição para emprestar, ou reduzem a liberdade com que eles podem dispor desses recursos.
O mercado acostumou-se, ao longo dos anos, a calcular o impacto de mudanças na taxa de juros básica, o instrumento convencional da política monetária.
Mas não tem condições de antever, com segurança, o impacto das demais medidas que o BC tem tomado. Aliás, sobretudo pelo seu ineditismo, nem mesmo o BC pode antever com precisão o efeito dessas iniciativas.
Nessas circunstâncias, e em meio a um choque de custos gigantesco, não é de surpreender que as expectativas de inflação tenham piorado.
A melhora recente da coordenação dessas expectativas, embora ainda incipiente e sujeita a reversão, merece ser comemorada.

FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.


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