São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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ANÁLISE

Agressividade da petista é uma estratégia arriscada

FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA

O primeiro debate eleitoral do segundo turno foi o mais agressivo de toda a campanha. Dilma Rousseff (PT) partiu para cima de José Serra (PSDB) logo na saída, nos primeiros minutos.
A estratégia era clara. A petista quis tomar a dianteira sobre os temas que a incomodaram nas últimas semanas, sobretudo os ligados a valores morais e religiosos. Assim, em vez de esperar para ser perguntada sobre aborto, cutucou Serra a respeito.
Foi logo acusando a campanha tucana de atingi-la com "calúnias". Mais adiante, citou Monica Serra, a mulher de Serra, que teria dito que a petista seria "a favor da morte de criancinhas".
Como Serra evitava entrar nesse assunto, Dilma usou de maneira ostensiva o verbo "tergiversar" para explicar que o oponente fugia de uma abordagem direta a suas perguntas.
A petista chamou o tucano de "mil caras". Em segundos o termo virou um um "hashtag" (etiqueta) no microblog Twitter. A militância profissional do PT turbinou o debate. Dilma queria irritar o adversário. Falou sobre um assessor da campanha de Serra que supostamente teria fugido com R$ 4 milhões. Ele não respondeu.
Dilma jogou sempre no ataque. Em dado momento, disse que o programa para recuperação de drogados promovido por Serra em São Paulo tinha apenas 95 leitos disponíveis. O tucano corrigiu: seriam 300 leitos. A claque petista riu na plateia.
A embocadura usada pela campanha petista embute um alto risco. Se há um consenso entre publicitários e politólogos é que o eleitor não gosta de quem se mostra mais agressivo.
O exemplo mais recente foi o de 2006, quando Geraldo Alckmin (PSDB) também fez duras cobranças de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nos dias seguintes, o tucano desidratou nas pesquisas.
Há diferenças sobre 2006. Primeiro, a candidata que atacou mais é uma mulher. Segundo, agora todos ficaram parados atrás de púlpitos. Há quatro anos, os debatedores andavam pelo cenário. Dilma deu tom forte às perguntas, mas seu gestual foi relativamente controlado.
A linguagem corporal geral de ambos, entretanto, denotava um Serra mais calmo e uma Dilma mais exaltada. Não há como saber qual será o efeito, mas ficou claro que a campanha ficou mais franca. E que a petista se sente à vontade para espetar Serra o quanto puder.


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