São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2010

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Conflito agrário emperra agropecuária de Dantas

Após investir R$ 1,5 bi, Opportunity enfrenta ameaças, roubos e depredações

Três seguranças que prestavam serviço para a Agropecuária Santa Bárbara são suspeitos da morte de sem-terra

Divulgação
Avião destruído em conflito com sem-terra em fazenda de Dantas, segunda a empresa

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DE BELÉM

Pensada há cinco anos para ser a maior criadora de bois do mundo, a Agropecuária Santa Bárbara, empresa ligada ao grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, atolou nos violentos conflitos agrários do Pará.
Resultado de um investimento estimado em R$ 1,5 bilhão, a empresa comprou áreas totais equivalentes a mais de três cidades de São Paulo e quase meio milhão de cabeças de gado.
Sua promessa era modernizar uma das regiões de pecuária mais promissora e ao mesmo tempo arcaica do país, recordista em desmate, trabalho escravo, grilagem de terras e mortes no campo.
Mas, desde que foi apontada pela Polícia Federal, em 2008, como possível lavanderia de dinheiro do grupo Opportunity -o que ela nega-, a Santa Bárbara teve suas principais fazendas invadidas e passou a travar uma guerra particular e cotidiana com os sem-terra.
A tensão do conflito pode ser medida em números: mais de cem funcionários da empresa alegam ter sido ameaçados ou feridos, 110 boletins de ocorrência foram registrados, 28 inquéritos foram concluídos e 51 ofícios foram enviados à Secretaria da Segurança Pública.
Em dois anos, segundo a polícia, sem-terra destruíram a sede de uma das fazendas, roubaram tratores e mataram 3.000 animais avaliados pela Santa Bárbara em R$ 15 milhões. Dezenas de funcionários resolveram ir embora. Os que ficaram têm medo.
Para a CPT (Comissão Pastoral da Terra), há motivos para a revolta dos sem-terra: a empresa aumentou a concentração de terras numa área já conflagrada, tornando-se um fator de violência.

ASSASSINATO
Um inquérito policial concluído em março passado indica um limite desse conflito e envolve a Santa Bárbara, até então suspeita apenas de crimes do colarinho branco, em um delito comum na região: a morte de um sem-terra de 20 anos, em 2009.
Segundo informou à Folha Miguel Cunha, diretor da polícia do interior do Pará, três seguranças de uma das duas empresas que prestam serviços de vigilância para a Santa Bárbara foram indiciados sob a acusação de matar Wagner Nascimento Silva.
Wagner fazia parte de um grupo de posseiros que havia invadido uma das fazendas. Ele ia com quatro colegas a uma festa quando foi perseguido por um carro com seguranças e por uma camionete. Após a camionete fechar o carro onde estava, levou um tiro nas costas. A empresa diz que desconhece a investigação e que não tem relação com a morte.


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