São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2010

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Em teste, Tiririca consegue ler e escrever

Para promotor, porém, resultado é insatisfatório para provar que deputado eleito com maior número de votos é alfabetizado

Humorista teve que escrever frase tirada de livro sobre a Justiça Eleitoral, além de ler e interpretar reportagens

ALINE PELLEGRINI
UIRÁ MACHADO

DE SÃO PAULO

O palhaço Tiririca conseguiu ler e escrever ontem durante teste de alfabetização, segundo o desembargador Walter de Almeida Guilherme, presidente do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo.
Deputado federal mais votado do país, com 1,3 milhão de votos, e eleito pelo PR-SP, Francisco Everardo de Oliveira Silva, o Tiririca, é acusado de falsidade ideológica.
O promotor Maurício Lopes questiona a declaração que o palhaço deu à Justiça Eleitoral, em que afirma que sabe ler e escrever.
O teste realizado ontem foi feito para comprovar a alfabetização de Tiririca. Segundo a assessoria de imprensa do TRE-SP, ainda não é possível dizer que o humorista "foi aprovado". Essa decisão caberá ao juiz Aloísio Silveira, responsável pelo caso.
Ele poderá levar em conta outros aspectos, como o depoimento das quatro testemunhas ouvidas ontem e perícias técnicas.
A Justiça Eleitoral costuma ser condescendente nesses casos. A jurisprudência mostra que apenas conhecimentos rudimentares da língua portuguesa são exigidos.
Para o promotor, porém, o resultado do teste de Tiririca foi "insatisfatório". Ele afirmou que irá recorrer caso o comediante seja absolvido e reclamou de "cerceamento da atividade acusatória".
Tiririca, depois de passar cerca de 12 horas no TRE, evitou a imprensa. Apenas acenou positivamente quando questionado se estava mais tranquilo e mostrou um cartaz sobre adoção de animais.
Na audiência de ontem, Tiririca teve que escrever parte de uma frase selecionada aleatoriamente da página 51 do livro "Justiça Eleitoral -Uma Retrospectiva". Ele também leu o título e o subtítulo de duas reportagens. Além da leitura, teve que interpretar os trechos.
Tiririca aceitou fazer o teste, embora não precisasse, já que a lei penal não obriga ninguém a produzir provas contra si mesmo.
Ele usou o princípio, porém, para recusar-se a fazer uma perícia grafotécnica do documento que apresentou ao registrar a candidatura.
Há a suspeita de que a declaração não foi redigida pelo humorista.
Tiririca admitiu ter recebido ajuda da mulher para escrever a declaração entregue à Justiça Eleitoral. Ele alegou que uma lesão na mão o impede de aproximar o dedo indicador do polegar.
Segundo o juiz Silveira, que cuida do caso, a constatação da falsidade ideológica não depende da forma como o documento foi produzido, mas de seu conteúdo.
Ainda de acordo com o juiz, o teste de alfabetização poderia levá-lo a decidir pela absolvição sumária de Tiririca -o que não aconteceu.
O humorista chegou ao TRE por volta das 9h e realizou as provas até o meio-dia. Após o almoço, as testemunhas foram ouvidas.
Uma delas é o jornalista Victor Ferreira, autor de reportagem para a revista "Época", na qual o promotor baseia sua acusação.
O presidente do TRE disse que Tiririca será diplomado no dia 17 de dezembro, independentemente do resultado da audiência, já que o processo não pede a cassação do deputado eleito.
"Não se constatou nada que pudesse indeferir o registro de sua candidatura. Por isso, o seu registro foi considerado legítimo", afirmou o presidente do TRE. Tiririca responde a processo criminal e pode ser condenado a até cinco anos de prisão.


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