São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

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Empresa piorou merenda para fazer caixa

Segundo investigação do Ministério Público, dinheiro economizado com comida de pior qualidade bancou propina

Documentos apontam troca de carnes por ovos em escolas do interior; investigação envolve cunhado de Alckmin

SILVIO NAVARRO
ENVIADO ESPECIAL A PINDAMONHANGABA (SP)

A Verdurama, pivô do suposto esquema de fraude na merenda em Pindamonhangaba que envolve Paulo César Ribeiro, cunhado do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), piorou a qualidade dos produtos nas escolas para fazer caixa.
Segundo investigações do Ministério Público, o dinheiro economizado teria bancado propina e doações a campanhas eleitorais.
A informação consta de um dos depoimentos prestados ao Ministério Público Estadual, em julho do ano passado, pelo ex-diretor da empresa Genivaldo dos Santos.
Nos documentos, há exemplos de troca de produtos, como a substituição de arroz tipo 1 pelo tipo 3 (com mais impurezas e mais grãos quebrados), e carne por ovos -que tem menos proteína e vitaminas, como a B12.
Outros produtos do cardápio, que inclui leite e hortifrutigranjeiros, também teriam sido trocados.
A lista de alimentos que compõem a merenda é estipulada no edital da concorrência e segue diretrizes do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
Segundo Genivaldo, houve reclamação das escolas, mas "nunca foi tomada providência" pela prefeitura.
De acordo com ele, foi negociado aumento de preços na tabela de alimentos para juntar dinheiro que seria usado na campanha do prefeito reeleito, João Ribeiro (PPS). Ele nega as acusações.
Genivaldo afirmou que, elevando valores da tabela, a diferença seria repassada à campanha. Não há registros das doações.

"ESQUEMA DA MERENDA"
Ele afirmou que a campanha do prefeito solicitou doações em 2008 e, a partir daí, surgiu a proposta de alterar os produtos do cardápio.
O contrato, no valor corrigido de R$ 6,8 milhões, foi aditado em fevereiro de 2009. Segundo ele, o "esquema da merenda" começou em 2004 no município.
No depoimento, Genivaldo diz que a proposta foi feita por Eloízio Durães, dono da SP Alimentação. Durães chegou a ser preso por acusação de fraude na merenda.
Segundo ele, além de fazer caixa dois, a intenção do esquema era socorrer financeiramente a SP Alimentação, que, afirma, atuava em con- luio com a Verdurama.
O argumento é que a empresa sofria com a suspensão de um contrato com a Prefeitura de São Paulo, em 2008. A SP Alimentação nega.
De acordo com depoimento do ex-secretário Sílvio Serrano, exonerado do cargo por conta das denúncias, quem fazia o transporte da merenda para a Verdurama era a empresa de Lucas Ribeiro, sobrinho da primeira-dama de SP, Lu Alckmin.
O cunhado do governador é investigado por suspeita de ter intermediado a suposta fraude na licitação em favor da Verdurama.


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