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ANÁLISE ELEIÇÕES 2010
Em nova sintonia, Serra atira em Lula
Pressionado por Dilma nas pesquisas, tucano relembra episódios nebulosos do governo
SERRA ELENCOU EXEMPLOS DO ANTAGONISMO DE SEUS VALORES COM O LULISMO: "NÃO DEVEMOS ELOGIAR DITADORES EM TODOS OS CANTOS"
FERNANDO DE BARROS E SILVA
COLUNISTA DA FOLHA
"O tempo dos chefes de governo que acreditavam personificar o Estado ficou para
trás há mais de 300 anos.
Luís 14 achava que o Estado
era ele. Nas democracias e no
Brasil, não há lugar para luíses assim."
Sabemos de que Luiz da
Silva ele falava. Foi a primeira vez, desde o início da campanha, que José Serra atacou
a figura de Luiz Inácio Lula
da Silva, ainda que de maneira velada ao público. Foi a
novidade mais importante
num discurso, de resto, mais
cheio de recados e farpas ao
governo do que muitos no
próprio PSDB esperavam.
Serra subiu o tom. Colocou
fogo no conteúdo da sua fala.
Mas, se o discurso ontem foi
mais inflamado, o ambiente
da convenção estava mais
frio do que o que se viu no dia
10 de abril, em Brasília,
quando o tucano anunciou
sua candidatura a uma militância então sinceramente
entusiasmada.
"Frio" talvez não seja a palavra. Tudo ontem parecia
menos espontâneo e mais
ensaiado. As pessoas uniformizadas, as bandeirinhas
tremulando em sintonia
-havia um clima de auditório na convenção tucana. A
ponto de o mestre de cerimônias dizer, sem contrangimento: "Pode bater palma,
você pode!" O aspecto mais
simpático do show ficou por
conta dos repentistas que
anunciavam os oradores.
A aparência "popular" da
festa tucana deve contrastar
com o aparato cinematográfico da convenção do PT hoje
em Brasília. O local escolhido
ontem pelo PSDB -a quadra
de esportes de um clube decadente na orla de Salvador- resultou num evento
de estética pobretona, um
tanto precário, quase mambembe. Com algum bom humor, pode ser visto como
uma espécie de "Caravana
Rolidei" em oposição à Holywood petista.
OGUM E VALORES
Serra aproveitou o palco
de Salvador para homenagear Ogum, "guerreiro valente e orixá da lei". Foi a deixa
que usou para elencar exemplos de antagonismo entre os
seus valores e os que atribui
ao lulismo: "Não devemos
elogiar continuamente ditadores em todos os cantos"; o
Congresso deve ser arena de
debates, não "de mensalões
e compra de votos"; a oposição "jamais deve sofrer tentativa de aniquilição pelo uso
maciço do aparelho e das finanças do Estado".
Como em outras ocasiões,
o tucano voltou a explorar a
comparação entre a sua trajetória e a de Dilma: "Não comecei ontem e não caí de paraquedas. Apresentei-me ao
povo, fui votado, exerci cargos, me submeti ao julgamento da população, fui
aprovado e votado de novo".
Isso não é novo. Nova é a
inclusão de Lula na linha de
tiro do tucano, ensaiada ontem pela primeira vez. Não
significa necessariamente
que a campanha tucana agora será assim. Significa que
Serra, pressionado pela subida de Dilma, está tateando,
em busca de uma nova sintonia. O segredo consiste em
separar o joio de Lula do trigo
de Lula e convencer as pessoas de que ele -e não Dilma- cultivaria melhor o segundo. Não é fácil.
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