São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2011

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JANIO DE FREITAS

O custo Palocci


Queda no prestígio de Dilma foi resultante da demorada inação no caso Palocci e a expectativa de providência


A CONTINUADA APROVAÇÃO ao governo não poupou Dilma Rousseff de uma queda substancial, presumivelmente por efeito do caso Palocci, no seu prestígio de presidente e de pessoa, como se pode deduzir da sondagem Datafolha. É uma interpretação que acentua a distinção entre o governo e a presidente, e nisso um tanto divergente das mais qualificadas. Ainda assim, vamos a ela.
Na aprovação do governo, o aumento de 47% em meados de março para 49% em junho está na margem de erro da pesquisa (dois pontos para mais ou para menos), o que indica estabilidade. Não haveria mesmo motivo forte o bastante, na ação do governo ou contra ele, para mudanças nítidas na opinião do eleitorado. A tarefa de Palocci no governo não era percebida pela opinião pública, o que impediu sua conturbação de gerar reflexos externos.
As frequentes aparições de Guido Mantega, com a firme confiança nas medidas moderadas contra a inflação, devem ter contribuído para a permanência da aprovação ao governo: não foram desmentidas pelos fatos e se mostraram mais confiáveis do que o alarmismo mal disfarçado dos comentaristas econômicos mais ostensivos. O restante do governo passou indiferente pelo caso Palocci, assim como a grande maioria do eleitorado nada soube, nem quereria saber, da conspiração petista para derrubar Luiz Sérgio da Secretaria de Relações Institucionais. Desse restante de governo, portanto, nada a influir contra a imagem do governo.
A continuidade e a indiferença da opinião pesquisada não se reproduziram a respeito de Dilma. A imagem de clareza e determinação para decisões, que 79% atribuíram à presidente em março, despencou para 62% que ainda a consideram "decidida"; e os 15% que a tinham por "indecisa" somam agora 34%. Mais do que o dobro. São alterações gritantes em item importante na formação de prestígio presidencial. Resultantes, tudo sugere, do contraste entre a demorada inação no caso Palocci e a indignada expectativa pública de uma providência, que só poderia ser de Dilma.
Ainda quanto a seu exercício na Presidência, mas também como pessoa, a qualificação de "democrática" dada a Dilma subiu de 44% para 52% da opinião aferida. É aumento expressivo em mais um item importante na formação do prestígio, mas de importância ainda maior para o país e a Presidência. Na mesma chave, a imagem de "autoritária", que os meios de comunicação repetem sem sequer descanso, caiu de 44% para 41%.
A mim não ocorrem hipóteses de explicação para duas questões da pesquisa. Quanto à "sinceridade" de Dilma, o índice caiu de 65% para 62%, com o de "falsa" passando de 17% para 22%. E o conceito de "muito inteligente" reduziu-se de 85% em março para 76% agora, com o de "pouco inteligente" subindo a jato de 9% para 20%. Movimentos que confirmam o meu índice de muito pouco inteligente, incapaz de encontrar um mínimo motivo para ao menos especular sobre possíveis causas daquelas mudanças.
Apenas um quarto da opinião pesquisada considerou que a "crise envolvendo Palocci prejudicou o governo", o que parece ser o reflexo correto do segmento social que acompanha em alguma medida e faz algumas considerações sobre fatos políticos. A respeito de Dilma, porém, a evidência é outra e nada desprezível.


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