São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2010

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PF fez "tortura psicológica", diz ex-secretário

MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO

O ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Jr. citou dois episódios em que o chinês conhecido como Paulo Li teria sofrido "tortura psicológica" da PF para incriminá-lo como exemplo das motivações políticas que teriam levado a seu desligamento.
"Os policiais tiraram o Paulo Li da cela e disseram: "Entrega o Tuma que nós te soltamos. Se você der o Tuma, não vamos pedir sua prisão temporária". Isso é tortura", conta Tuma Jr. Dar é o jargão policial para delatar. Rodrigo Campos Costa foi o delegado que fez os interrogatórios, segundo ele.
Em dois relatos enviados à Justiça e obtidos pela Folha, Li escreve que o delegado Costa propôs uma troca: para não ir para o cadeião de Pinheiros, um local muito pior do que a custódia da PF, "você entrega uma pessoa e fala tudo sobre ela". Essa pessoa, segundo Li, era Tuma Jr.
Segundo Li, o delegado queria saber sobre a viagem de Tuma Jr. à China e sobre campanhas políticas. "Quem patrocina?"
Li relatou também que o delegado colocou uma gravação muito ruim para ele ouvir, que Li não entendeu. O delegado teria dito: "Eles estão falando de você. É filho da puta e porco".
O primeiro relato é de novembro do ano passado; o segundo, do último dia 11.
O ex-secretário diz ter relatado o caso para o então ministro da Justiça, Tarso Genro, e para o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, e ambos não fizeram nada. Procurados pela Folha, os dois não quiseram comentar a acusação.
O interessado em derrubá-lo, segundo relato de Tuma Jr., era o diretor-geral da PF, por causa de sucessos obtidos pela Secretaria Nacional de Justiça em sua gestão.
A PF prendeu o chinês naturalizado brasileiro Li Kwok Kwen, o Paulo Li, em setembro do ano passado. Li, que foi assessor parlamentar de Tuma Jr. quando ele era deputado estadual, é acusado de contrabandear celulares e de cobrar comissão para regularizar a situação de chineses ilegais no país.
Durante a investigação, a polícia fez gravações de conversas entre os dois em que negociavam compra de produtos contrabandeados ou favores dentro do ministério.
"Não há nenhuma prova contra mim. Li os 12 volumes e só tem dedução", afirma o ex-secretário.


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